São Paulo, quarta-feira, 19 de outubro de 1994
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Produtor vê esgotamento da temática da violência

EDUARDO SIMANTOB
DA REDAÇÃO

O produtor germano-americano Chris Sievernich estará na próxima semana no Brasil, no júri da 18ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo.
Sievernich, 45, está há 15 anos no ramo de produções independentes nos EUA, alternando-as com outros filmes produzidos na Europa. Entre suas realizações, estão ``Os Vivos e os Mortos", último filme de John Huston, ``Paris, Texas", do alemão Wim Wenders, e ``O Inocente", mais recente filme de John Schlesinger.
O produtor trabalha atualmente em três projetos: um na Irlanda, outro no México e, por fim, em uma produção conjunta com o cineasta argentino Alejandro Agresti. De sua casa em Nova York, Sievernich concedeu a seguinte entrevista por telefone à Folha:
Folha - Esta é a primeira edição competitiva da Mostra de São Paulo, calcada nos moldes dos festivais europeus. Como o sr. vê a realização de um evento deste tipo num país periférico (no cinema) como o Brasil?
Chris Sievernich - Os festivais têm um papel muito importante como termômetro de público em qualquer país. Eles dão uma mostra da produção que está sendo feita e que não necessariamente acaba passando nos cinemas.
Folha - O sr. só trabalha em produções independentes?
Sievernich - Sim, nunca trabalhei para grandes estúdios. A principal diferença entre trabalhar com uma ``major" e independentemente é que a primeira visa prioritariamente o retorno comercial. Isso acarreta profundas diferenças na maneira de contratar e produzir talentos, tudo em função de maximizar lucros e recursos. Nos filmes que faço, é claro que viso também o sucesso comercial, porém tenho a liberdade em fazer escolhas inusitadas.
Folha - As limitações de orçamento são um fator determinante do estilo dos filmes independentes?
Sievernich - Orçamentos reduzidos implicam em um esforço de produção mais concentrado, onde não se pode prescindir de grandes efeitos visuais. É com idéias que os independentes devem compensar a falta de condições técnicas.
Folha - Quais são as maneiras mais comuns de se levantar dinheiro para essas produções?
Sievernich - Há desde aqueles que emprestam dinheiro dos pais ou estouram o saldo do cartão de crédito, até aqueles que vendem quotas de produção à empresas de médio porte que atuam na área.
Folha - E como esses filmes são distribuídos?
Sievernich - Nos EUA, o mercado é muito rápido, os distribuidores estão sempre procurando coisas novas. Premiações em festivais são muito importantes nesse sentido, pois chamam a atenção dos distribuidores para as potencialidades comerciais de um filme.
Folha - Segundo Jonas Mekas, veterano diretor ``underground", as ditas vanguardas cinematográficas direcionam-se hoje muito mais para o discurso étnico e de minorias do que para o experimentalismo formal. O sr. concorda com isso?
Sievernich - Sim, de fato o que ocorreu foi uma democratização da produção cinematográfica. Hoje, pessoas com menos meios podem fazer seus filmes e dizer o que bem entenderem. Além disso, como eu disse antes, o mercado norte-americano é muito rápido. Assim que se descobre um novo talento, como Tarantino, os grandes produtores levantam imediatamente os meios necessários para que ele realize um novo filme. Isso não acontece na Europa.
Folha - Como o sr. vê a fixação das novas produções em uma estética da violência e em heróis psicopatas?
Sievernich - Para mim, este é um caso em que os independentes tentam imitar os grandes estúdios para fazer dinheiro. Até quando o público vai aguentar ver só violência nas telas?

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