São Paulo, quarta-feira, 19 de outubro de 1994 |
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Aviso aos exportadores
CLÓVIS ROSSI MOSCOU – Pode ter sido brincadeira, mas acaba sendo um recado aos exportadores brasileiros, que se queixam acidamente da sobrevalorização do real. Ontem, o presidente eleito Fernando Henrique Cardoso leu a seguinte manchete do ``Moscow Times", diário de língua inglesa editado em Moscou: ``Banco Central da Rússia fica acéfalo".É uma alusão ao fato de que não havia sido nomeado novo presidente para o BC russo, depois que, na sexta-feira, seu então chefe, Victor Gerashchenko, pediu demissão. Era acusado de não defender o rublo contra os especuladores, o que levou a uma queda de 21% no valor da moeda russa frente ao dólar em um único dia (a terça-feira passada). FHC brincou: ``Vou levar esta notícia para mostrá-la aos que defendem, no Brasil, a independência do Banco Central". O repórter da Folha cutucou: ``No Brasil, os exportadores acusam o presidente do BC do inverso, ou seja, de sobrevalorizar o real". O presidente eleito devolveu depressa: ``Os exportadores já ganharam muito dinheiro". É pouco provável que se trate apenas de uma ``boutade" de FHC. Mais tarde, em meio a uma discussão com sua mulher Ruth sobre como pagar uma compra (em dólares ou com cartão de crédito), comentou: ``De qualquer forma, o dólar não vai cair muito mais" (em relação ao real). Parece claro que FHC trabalha com a hipótese de que a paridade real/dólar se mantenha mais ou menos nos patamares atuais. Má notícia principalmente para os exportadores. Eles esperavam que, no início do próximo governo, houvesse uma correção cambial para corrigir a defasagem, que, obviamente, dificulta as exportações. Até lá, o real terá conhecido uma sobrevalorização superior a 15%, que seria a inflação acumulada desde a introdução da nova moeda. Consolida-se, com esses dados, a sensação de que o governo (atual e futuro) trabalha com o cenário de uma drástica redução do saldo comercial. Afinal, com o real sobrevalorizado e a redução de tarifas de importação, ``importar é a solução", invertendo palavra de ordem muito usada no ciclo militar. Texto Anterior: Polícia Próximo Texto: Fantasma também vai à escola Índice |
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