São Paulo, quinta-feira, 20 de outubro de 1994
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A voz de FHC

CLÓVIS ROSSI

MOSCOU – Fernando Henrique Cardoso forneceu ontem detalhes práticos da operação destinada a devolver à Presidência da República ritos solenes do cargo. Trata-se da comunicação social no futuro governo.
Se tudo funcionar como pretende FHC, acabou-se o que tenho chamado de ``cenas de jornalismo explícito", ou seja, aquela selva de microfones e gravadores junto à boca do presidente (ou qualquer outra autoridade).
O presidente FHC não vai falar todos os dias e, quando o fizer, não quer estar cercado dos logotipos de cada rede de TV, emissora de rádio e até jornais, que enfeitam (às vezes, enfeiam) microfones e gravadores.
Vai dar, sim, entrevistas coletivas periódicas e vai usar, para se comunicar com a população em geral, a cadeia nacional de rádio e TV, mas sempre com parcimônia. Só quando de fato tiver o que dizer.
FHC quer um porta-voz qualificado e diferencia-o do mero assessor de imprensa. Traduzindo: porta-voz, como o nome indica, leva a voz do chefe aos jornalistas e pode fazê-lo porque está de fato informado a respeito do que está acontecendo no Palácio do Planalto e arredores. Assessor informa mais a agenda do que a substância.
Mais: mentir fica proibido. Omitir-se, pode, como é óbvio. Dá-se preferência, para tal função, a um diplomata, que, segundo FHC, sabe medir as palavras.
A escolha do diplomata atende até a um requisito de caráter financeiro: o salário de porta-voz (cargo DAS-6, no jargão burocrático) é de meros R$ 1.680. Um diplomata acumularia o seu salário normal com esses R$ 1.680 do DAS, o que comporia um vencimento bastante razoável.
Mas não é ainda uma decisão fechada. Sempre há maneiras de atrair para o governo funcionários qualificados que necessitam boa remuneração contratando-os por agências governamentais não sujeitas à camisa-de-força do salário normal. Se for esse o caminho, FHC dá preferência a uma mulher.

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