São Paulo, domingo, 23 de outubro de 1994
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Argentina planeja dobrar exportações para o Brasil

SÔNIA MOSSRI
DE BUENOS AIRES

O governo argentino e a UIA (União Industrial Argentina) pretendem dobrar as exportações para o Brasil até 97, a partir do início do Mercosul (Mercado Comum do Sul), em 1º de janeiro do próximo ano.
O Ministério da Economia e a UIA avaliam que as exportações para o Brasil podem saltar dos atuais US$ 2,8 bilhões programados para 94 para US$ 6 bilhões em 97.
O presidente do Departamento do Mercosul da UIA, Jorge Gaibisso, disse à Folha que as exportações para o Brasil não deverão se restringir a alimentos e petróleo. Segundo ele, as exportações deverão incluir no futuro também autopeças.
O secretário de Programação Financeira do Ministério da Economia, Juan José Llach, avalia que a elevação das vendas para o Brasil contribuirá para diminuir o déficit no balanço de pagamentos (diferença entre a entrada e saída de divisas do país).
Atualmente, o balanço de pagamentos registra um déficit em transações correntes, que incluem as contas de serviços e transferências unilateriais, de US$ 12 bilhões, cerca de 4% do Produto Interno Bruto.
O déficit no balanço de pagamentos é uma reclamação constante do empresariado. A sete meses das eleiçoes, nas quais disputará um novo mandato, o presidente Carlos Menem usará na campanha a promessa de aumento de vendas para o Brasil.
A adoção do Plano Real não é comemorado na Argentina não apenas pelo aumento das exportações para o Brasil. Gaibisso disse que o programa de estabilização subiu os custos das empresas brasileiras.
Para ele, isto possibilitará que segmentos da indústria argentina que tradicionalmente não exportam para o Brasil, possam buscar mais um novo mercado para seus produtos.
A pouco mais de dois meses do Mercosul, os investimentos brasileiros na Argentina ainda são classificados como tímidos tanto pelo governo quanto pela UIA.
O Chile, por exemplo, investe mais de US$ 1 bilhão por ano, especialmente na aquisição de empresas estatais privatizadas.
Um dos maiores investimentos de empresas brasileiras é feito atualmente de Brahma. Disposta a se lançar no mercado externo, ela está investindo cerca de US$ 100 milhões na construção de uma fábrica na província de Buenos Aires.
A inauguração da empresa será em novembro, com a participação do presidente Menem. A Brahma adotou a estratégia de marketing de não associar a cerveja a uma marca brasileira.
Gaibisso lembra que a Argentina oferece aos empresários brasileiros um mercado potencial de 15 milhões de pessoas que possuem renda suficiente para participar do mercado de consumo, de uma população total de 33 milhões.
Dados da União Industrial Argentina revelam que o salário médio do trabalhador argentino é de US$ 600. A indústria brasileira tem seis vezes a capacidade do parque argentino, observa Gaibisso.
Segundo ele, se o Brasil destinar 5% da produção industrial para a Argentina, estará vendendo para mais de 30% do mercado do país. `` Argentina não pode ganhar nunca do Brasil em competição industrial", observa Gaibisso.

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