São Paulo, domingo, 23 de outubro de 1994
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São Paulo precisa mudar

ANTONIO KANDIR

Desde a última década, São Paulo vem diminuindo sua participação relativa no PIB nacional, em especial no setor industrial. Representávamos mais de 50% do PIB industrial no início dos anos 70 e hoje representamos 40%.
Essa queda reflete, afora os efeitos agudos da crise sobre o Estado mais industrializado do país, um processo inevitável e positivo de desconcentração econômica. O problema está na incapacidade demonstrada por São Paulo de reorientar-se nessa mudança.
São Paulo firmou-se como pólo principal do desenvolvimento do país no governo Juscelino Kubitschek. Por um conjunto de razões, nosso Estado abrigou o desenvolvimento deste que passou a ser o setor-chave da industrialização do país partir dos anos 50.
A liderança econômica de São Paulo permaneceu até meados dos anos 70. Por 20 anos, o papel central de São Paulo foi definido e assegurado pelas políticas de desenvolvimento do governo federal.
A partir de meados dos anos 70, o quadro começou a alterar-se, sob a influência dupla de um processo natural de desconcentração industrial –potencializado pelos investimentos do 2º PND e por processos de inovação tecnológica que impulsionaram o agrobusiness em outras regiões do país– e da crise do modelo de desenvolvimento baseado na substituição de importações, que atingiu São Paulo como nenhum outro Estado.
Nesse novo quadro –em que se acirra a competição entre os Estados pela atração de investimentos, vem chamando a atenção a dificuldade das lideranças políticas paulistas de definir com clareza quais sejam hoje os interesses estratégicos e o novo lugar de São Paulo no desenvolvimento nacional.
Primeiro, importa fixar que nenhum outro Estado tem tanto interesse em contribuir para a consolidação da estabilidade econômica quanto o Estado que mais sofreu com a crise dos anos 80. Donde a importância de eleger-se um governador disposto a arrumar a desordem financeira que se instalou no Estado depois da administração saneadora de Franco Montoro.
Mas não basta apoiar a consolidação da estabilidade. É preciso recuperar a capacidade de planejamento, a partir de uma visão clara de quais sejam as vantagens competitivas do Estado para gerar e atrair novos investimentos, num contexto marcado pela abertura econômica e a evolução econômica de outros Estados. Donde a importância de eleger-se um governador comprometido com a redefinição de objetivos e métodos da administração pública estadual.
No caso de São Paulo, as vantagens competitivas estão associadas à existência de um ambiente que ainda conserva vantagens para a produção intensa em tecnologia e conhecimento.
Isso se deve, no fundamental, à presença da ponta mais avançada da indústria nacional e transnacional; de institutos de pesquisa aplicada de bom desempenho; de um sistema universitário superior ao do restante do país; de uma mão-de-obra com níveis de qualificação acima da média nacional; e de consumidores com padrões elevados de exigência quanto à segurança e qualidade dos produtos.
Para que o Estado extraia proveito do ambiente herdado de seu período áureo, é preciso fazer em São Paulo uma aposta firme na modernidade. Esta requer uma reforma profunda da máquina do governo e novas formas de parceria entre o setor público e a iniciativa privada, sobretudo para dar um grande salto à frente nos campos da educação e do desenvolvimento tecnológico.

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