São Paulo, domingo, 23 de outubro de 1994
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Livro conta criação de teorias

BERNARD LOVELL
DA "NEW SCIENTIST"

Há quase meio século Fred Hoyle vem se envolvendo em questões científicas de grande importância e altamente controversas, especialmente aquelas que dizem respeito à origem e à evolução do Universo e da vida.
O "establishment" científico contemporâneo tende, de modo geral, a menosprezar as teorias cosmológicas e biológicas aventadas por Hoyle, mas muitos dos pontos principais que ele colocou ainda não foram respondidos. Seja qual for a avaliação final que venha a ser feita desses pontos, não há dúvida de que seu trabalho com a origem dos elementos vai ficar como uma das mais importantes contribuições científicas do século.
Em sua autobiografia ("Home is Where the Wind Blows", University Science Books, California, 443 págs.), Hoyle escreve com a mesma fluência e destemor com que fala. Sua descrição da sequência de acontecimentos que o levou a acreditar que deveria haver um nível de energia de 7,65 megaelétron-volts (MeV) no isótopo de carbono-12 constitui um belo exemplo de que como descobertas científicas críticas podem emergir através das vicissitudes da vida de um cientista.
As ligações nesse caso começam com o estudo escrito em 1939 pelo físico norte-americano Hans Bethe sobre a conversão de hidrogênio em hélio, como fonte da energia do Sol.
Em 1952, um encontro fortuito com o astrônomo Walter Baade na Assembléia da União Astronômica Mundial resultou em um convite para visitar Mount Wilson e dar palestras no Caltech, em 1953.
Foi durante a preparação dessas palestras que Hoyle ficou certo de que a produção de carbono a partir de hélio não pode ocorrer a não ser que exista no carbono-12 um nível de energia de 7,65 MeV.
A primeira reação do astrofísico nuclear Willy Fowler foi de que "de alguma maneira eu me afastei muito de minhas coordenadas mentais". Mas Hoyle convenceu Fowler a projetar uma experiência e quando ouviu os resultados desta, "o perfume das laranjeiras se tornou ainda mais doce para mim".
E com razão, pois esse resultado levou diretamente ao estudo de Hoyle, de 1954, sobre a síntese dos elementos do carbono ao níquel e ao monumental estudo de 1957, escrito em colaboração com Fowler e os astrofísicos Geoffrey e Margaret Burbridge, sobre a síntese dos elementos no interior das estrelas.
Esses fatos e outros, que Hoyle modestamente considera "coisas de menor importância", resumem o cientista que meio século depois renunciaria à direção do Instituto de Astronomia Teórica porque considerava intolerável a política universitária de Cambridge.
O livro pode ser encomendado à Livraria Cultura (av. Paulista 2073, cj. 153, São Paulo, tel. 011-285-4033)

Tradução de Clara Allain

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