São Paulo, domingo, 23 de outubro de 1994
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Ataque kamikaze faz 50 anos

RICARDO BONALUME NETO
ESPECIAL PARA A FOLHA

Faz 50 anos que os japoneses estrearam uma instituição até hoje incompreensível para a maioria dos ocidentais.
Foi em 25 de outubro de 1944 que entraram em ação pela primeira vez os kamikaze, pilotos-suicidas que tentaram barrar o caminho da Marinha americana ao coração do império japonês durante a Segunda Guerra Mundial.
A palavra kamikaze quer dizer vento (``kaze") divino (``kami") em japonês. Foi o nome dado aos furacões que afundaram duas frotas de invasão mongóis, em 1274 e outra vez em 1281.
Esses ventos salvaram o Japão de ser conquistado pelos ``bárbaros" do mongol Kublai Khan.
Os inventores das unidades de aviadores-suicidas kamikaze achavam que eles seriam capazes de repetir a façanha, estraçalhando a frota americana.
Hoje o Japão tem uma Constituição pacifista e Forças Armadas exclusivamente para a defesa. Em compensação, em outros lugares ainda existem ``kamikazes", como os radicais islâmicos que explodem em seus carros-bomba.
O motorista-suicida de um dos carros-bombas que explodiu no Líbano em 1983, contra americanos e franceses da força de paz, sorria, segundo uma testemunha.
Os pilotos kamikaze de 1944-45 entravam sorrindo em seus aviões. Ninguém era forçado a se matar.
O que explica os kamikaze da Guerra do Pacífico e os modernos terroristas são tradições culturais. Muçulmanos xiitas, como os antigos guerreiros samurai japoneses, acreditam que o martírio é algo nobre e edificante.
Os cristãos partilhariam o mesmo ideal hoje se tivessem mantido as tradições dos que morriam sorrindo ao ser deglutidos pelos leões nos circos romanos. Esse tipo de dedicação extremada ainda existe, de certo modo, entre os católicos da Irlanda do Norte.

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