São Paulo, domingo, 23 de outubro de 1994 |
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A disputa pelo Rio
MARCELO BERABA SÃO PAULO – Poucas cidades no mundo têm feito tanto esforço para se reerguer como o Rio. O movimento Viva Rio e a campanha do Betinho contra a fome são provas irrefutáveis dessa vontade de mudar.No entanto, este esforço não vem dando certo. Por quê? Por que será que as polícias civil e militar do Rio, mesmo depois da sequência de escândalos em que estiveram envolvidas, não mudaram nada? Os 13 assassinatos de Nova Brasília são um escárnio à consciência de um país civilizado. Uma polícia não pode agir impulsionada pela necessidade de vingança. Mesmo que os 13 assassinados fossem traficantes. Uma polícia não pode se colocar às margens da lei, nem sentenciar presumíveis réus como se fosse a Justiça, nem impedir os procedimentos técnicos indispensáveis em qualquer perícia. Uma cidade não tem condições de se reerguer com polícias como estas. Por que será que Enéas Carneiro, vestal de um positivismo hipócrita, acha normal pagar um médico para fazer seus plantões num hospital público? Sabemos onde as parturientes cariocas estão dando à luz -nas pias dos pronto-socorros. Mas não sabemos onde estão os milhares de Enéas que se tornaram funcionários públicos para facilitar seus negócios privados. Uma cidade não tem condições de se reerguer com pessoas como estas. Por que será que candidatos a deputado conseguiram fraudar uma eleição a ponto de escandalizar uma nação acostumada a fraudes? Não haveria tamanha fraude sem a conivência de fiscais, mesários e até mesmo de juízes. Agora, é uma ilusão imaginar que essas mazelas são exclusividades do Rio. A quantidade de problemas, a incompetência, conivência ou omissão dos governos e elites, são as mesmas no país inteiro. O espaço público abandonado pelos governos e elites está sendo ocupado pelas organizações criminosas, e não apenas de traficantes. O que diferencia hoje o Rio do resto é a disposição de um grupo de cidadãos comuns de disputar esse espaço e reerguer a cidade. Até agora, infelizmente, sem êxito. Texto Anterior: Areias de Portugal Próximo Texto: Doenças e remédios Índice |
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