São Paulo, domingo, 30 de outubro de 1994
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Ilegais vivem em terras inférteis e abandonadas

FERNANDO ROSSETI
DE JOHANNESBURGO

Quando os africâners tomaram o poder, em 1948, redistribuíram as terras do país entre eles e puseram os negros em espaços denominados ``homelands", algo como ``terra-natal". É nesses territórios que muitos dos imigrantes ilegais estão vivendo hoje.
São terras cobertas de pedras, impróprias para a agricultura, onde velhos, mulheres e crianças passam fome, já que os homens jovens vão para as cidades em busca de emprego e depois não voltam mais.
É em uma dessas ``homelands", próximo de Ermelo (300 km a sudeste de Johannesburgo) que trabalha o missionário católico brasileiro Arlindo Franco de Godoi, de 35 anos.
``Esta terra não servia para os brancos, então eles deram para os negros", diz, em uma excursão à ``homeland", onde há três pequenas igrejas católicas.
Para proteger a reportagem da Folha, ele coloca na caminhonete da missão as placas que identificam o veículo como religioso. ``Na verdade, isso não é mais necessário porque eles já me reconhecem", afirma.
Obstáculo
Os imigrantes ilegais em regiões como esta são um dos maiores obstáculos para os trabalhos de desenvolvimento que centenas de organizações não-governamentais começaram a realizar desde que a política do apartheid começou a ceder em 1990.
``Trabalhamos nas regiões mais pobres, tentando ensinar princípios de higiene, dar alguma educação, falar sobre Aids", afirma o missionário Godoi.
``O problema é que os imigrantes ilegais não querem ser localizados, porque temem depois ser repatriados", diz Tshepo Khumbane, que trabalha em Alexandra, uma das maiores favelas da periferia de Johannesburgo. ``Aí, fica muito perigoso o nosso trabalho", acrescenta.
(FR)

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