São Paulo, sexta-feira, 4 de novembro de 1994
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Boca-de-urna à antiga

Na segunda metade da década de 40, o Brasil respirava ares de redemocratização após os anos da ditadura do Estado Novo. Apesar de a palavra da moda ser democracia, em muitas regiões do país ainda prevalecia o "voto de cabresto" da República Velha.
Em São Caetano, no agreste do Estado de Pernambuco, por exemplo, as regras eleitorais ainda eram à moda antiga. Quem decidia qual candidato seria o vencedor era o coronel João Guilherme.
Naquela eleição, como de costume, ele já havia escolhido o nome que seria referendado pelas urnas. Para se certificar de que o resultado da apuração seria de seu agrado, o coronel destacou jagunços para ficarem de plantão, no dia da eleição, em todas as entradas da cidade. Era quase uma "pesquisa de boca-de-urna".
Quando um eleitor se aproximava, o jagunço perguntava:
– O senhor vai votar no candidato do coronel João Guilherme?
Se a resposta fosse negativa, o homem, com o melhor "espírito democrático", ameaçava:
– Acho melhor o senhor não ir votar, não. Que é para não atrapalhar a democracia.

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