São Paulo, sexta-feira, 4 de novembro de 1994 |
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Mostra entra nos 'roteiros étnicos'
LÚCIA MARTINS
Uma vez por ano, os iranianos Vishtasb Amyr Ekbatani e sua mãe, Munireh Rassekh, saem do apartamento onde moram nos Jardins (zona oeste) para ir à Mostra Internacional de Cinema. Não é pela história, pelos atores ou pela fama do diretor. Querem aproveitar a oportunidade de ver imagens de Teerã (capital do Irã), já que filmes sobre o país não passam frequentemente no circuito. No Brasil desde 70, Ekbatani veio para trabalhar na loja de tapetes persas dos tios. Gostou e resolveu ficar. Dois anos depois trouxe Munireh, 69, que havia se separado do marido e dirigia uma escola. No dia 25, Ekbatani e sua mãe foram ao Cinesesc ver "Sara", de Dariush Mehrjui. O filme conta a história de uma iraniana que, escondida do marido doente, costura para sustentar a casa. Ele descobre e se sente ofendido. "O filme não precisava ter história. Só vim para ver como estão as ruas e ouvir as pessoas falando. Foi bom rever os costumes do meu povo", diz Ekbatani, 39. Ekbatani só voltou ao Irã uma única vez, em 75, como turista. Acabou sendo obrigado a ficar dois anos "servindo ao país". Filho único, hoje vendedor de antiguidades, Ekbatani diz que nunca se casou porque "as brasileiras têm muita liberdade". "Bosna!", do francês Bernard-Henri Lévy, foi o filme escolhido por seis croatas e um bósnio para ver um pouco da guerra que atinge a Bósnia. A maioria tem parentes ou amigos na região. Eles se encontraram na Sala Cinemateca às 22h do dia 25 para ver o documentário, que trata do conflito entre sérvios, croatas e mulçumanos na ex-Iugoslávia. "Sabia que a guerra era brutal, mas saí arrasado. Vi lugares da minha infância completamente destruídos", diz Zejiko Loparic, 54, representante do governo croata no Brasil que mora em São Paulo há 25 anos. LEIA Sobre a programação da Mostra Internacional de Cinema no Acontece. Texto Anterior: Paulistanas usam poça d'água como espelho Próximo Texto: Público têm curso superior Índice |
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