São Paulo, sexta-feira, 4 de novembro de 1994
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Edmundo, estou com você e não abro

BARBARA GANCIA
COLUNISTA DA FOLHA

Quer dizer que a onda agora é apontar o dedo para Edmundo, pivô do fuzuê ocorrido no jogo São Paulo x Palmeiras do último domingo, e dizer que ele não presta, é? Sei, sei.
Pega bem sair por aí dizendo que o atacante palestrino é encrenqueiro, mau-caráter, safado, moleque e o escambau, não é?
Pois eu digo: Edmundo é estourado, sim. Edmundo faz polêmica, faz. Edmundo, porém, é honesto.
Diz exatamente o que pensa, sem se importar em parecer antipático. É o que é, uma espécie de Nelson Piquet de chuteiras. Não mede as besteiras que faz, por uma razão simples: não finge ser melhor do que é.
Concedo que o atacante palestrino seja um cafajeste de marca maior. Mas a maioria dos jogadores de futebol não é? Ao menos, Edmundo não esconde.
Ele não é mais cafajeste do que essa cambada de santinhos do pau oco que se dizem 'àtletas de Cristo".
Me diga, ó amante do ludopédio: por acaso, certas atitudes do "atleta de Cristo" Muller, esta serpente em pele de Madre Tereza de Calcutá, são menos condenáveis do que as trapalhadas de Edmundo?
Que eu saiba, Muller já foi pego no pulo mentindo para os dirigentes do São Paulo mais de uma vez. E, no clássico do último domingo no Morumbi, não o vi dar a outra face.
Muller estava lá bonito, bonito, trocando sopapos com os palmeirenses, sem nem mesmo ter sido covardemente provocado, como foi o caso de Edmundo.
Se essa mania de taxar pessoas públicas de mocinho ou bandido tivesse, ao menos, a função de lavar a alma das multidões, se servisse como alguma forma rudimentar de expiação coletiva, ainda vá lá. Teria alguma medíocre serventia.
Mas o julgamento maniqueísta de celebridades só serve para alimentar ainda mais essa pústola maligna de nome hipocrisia.
Quando Iberê Camargo assassinou em uma discussão boba de rua um pai de família com um tiro à queima-roupa, a sociedade não teve coragem de condená-lo. Iberê, à época um dos mais celebrados artistas do país, não cumpriu pena.
Edmundo, por muito menos, é taxado de inimigo público.
Alô, Edmundo! Não liga, não. Eles têm dor de cotovelo do seu talento e dessa sua saúde exemplar!

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