São Paulo, domingo, 6 de novembro de 1994
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'Milagres' ajudam Mão Santa no Piauí

CLÁUDIA TREVISAN
ENVIADA ESPECIAL AO PIAUÍ

A mistura da fama de milagreiro com um discurso messiânico repleto de citações bíblicas ajudaram o cirurgião Francisco de Assis de Moraes Souza (PMDB), conhecido por Mão Santa, chegar ao segundo turno e virar a eleição para o governo do Piauí.
O peemedebista disputa o cargo com Átila Lira (PFL), que é apoiado pelas forças políticas tradicionais do Estado mais pobre do país.
Candidato da coligação "Vontade do Povo" (PFL, PPR, PP, PTB e PL) Lira tinha certeza da vitória no primeiro turno. Os partidos que o apóiam elegeram 8 dos 10 deputados federais do Piauí, 22 dos 30 deputados estaduais e os dois senadores.
O pefelista conseguiu ainda a adesão de 144 dos 148 prefeitos do Estado e tem o apoio do governador Geraldo Mello (PPR). Chegou em primeiro lugar no primeiro turno, mas agora enfrenta dificuldades. Pesquisas recentes indicam que Mão Santa está na frente.
Em um Estado que tem um dos maiores índices de mortalidade infantil do país e uma estrutura de saúde pública extremamente precária, os médicos ocupam uma posição de destaque.
O peemedebista soube usar politicamente sua habilidade como cirurgião. Formado pela Universidade Federal do Ceará, com residência no Hospital do Servidor do Rio de Janeiro, começou a atuar em Parnaíba, segunda maior cidade do Piauí, no fim dos anos 60.
Chegou a fazer 12 cirurgias por dia, muitas delas de graça. Logo que entrou na política, adotou o apelido Mão Santa.
Nas ruas, faz questão de cumprimentar todas as pessoas que encontra. Na quarta-feira, dia de Finados, Teresinha de Jesus de Oliveira teve uma crise de choro depois de ser abraçada pelo candidato. "Se Mão Santa não ganhar eu morro", disse.
Teresinha está entre os eleitores que atribuem poderes milagrosos ao candidato. "Se ele opera uma pessoa, é o mesmo que Deus pôr a mão", afirma.
Mão Santa, 52 anos de idade e 27 de cirurgias, tem a mesma origem política de seu adversário. Iniciou sua carreira política na Arena e passou pelo PDS e há menos de um ano estava no PPR.
Afirma que combate as oligarquias e representa a renovação no Estado.
Mão Santa é uma espécie de Francisco Rossi piauiense. Como o candidato do PDT ao governo de São Paulo, faz referências frequentes a Deus e não tem uma proposta clara de governo. Diz que quer "reinvertar" a forma de governar, sem explicar claramente o que isso significa.
Como Rossi, apresenta como grande credencial sua administração na Prefeitura de Parnaíba, onde recebeu quase 90% dos votos no primeiro turno.
A diferença é que Mão Santa conseguiu reunir em torno de si a maioria dos partidos de oposição no Estado. A sua coligação "Resistência Popular" é formada por PMDB, PSDB, PC do B, PPS, PDT e PMN. Agora, conta com a simpatia do PT e do PSB.
Entre as realizações de sua administração, Mão Santa cita a construção de dois cemitérios e a criação da funerária municipal.
"No Nordeste, o subemprego é grande e o desemprego é maior. Quando morre alguém da família é um transtorno. Um caixão de defunto custa mais de um salário mínimo", afirma.
Em todos os seus discursos, usa uma frase que se tornou clássica na sucessão estadual: "com a ajuda de Deus e o seu voto eu sou o próximo governador do Piauí".
O candidato adora fazer citações e frequentemente se compara a personagens históricos como Abraham Lincoln e Juscelino Kubistchek.

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