São Paulo, domingo, 6 de novembro de 1994
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Em 92, Tuma beneficiou família de Fiuza

XICO SÁ
DA REPORTAGEM LOCAL

No cargo de diretor-geral da Polícia Federal, o senador eleito Romeu Tuma (PL-SP) beneficiou ilegalmente a família, amigos e assessores do deputado federal e ex-ministro Ricardo Fiuza (PFL-PE).
Tuma forneceu carteiras da PF a pessoas indicadas pelo deputado. De posse dos documentos, elas ficaram com status de "colaboradores" da polícia.
Essas carteiras, segundo a lei, só podem ser fornecidas aos próprios policiais e às empresas de segurança cadastradas oficialmente junto ao governo.
Com esses documentos, além do porte de arma em todo o território nacional –qualquer tipo de arma–, os portadores podem ser privilegiados com a dispensa em vistorias e outras fiscalizações policiais.
Segundo dirigentes de sindicatos de policiais federais, esse tipo de documento, fornecido ilegalmente no país nos últimos anos, costuma ser usado para livrar parentes e amigos de autoridades das "blitz" que os cidadãos comuns estão sujeitos.
A Folha obteve cópias das carteiras dos filhos de Fiuza: Ricardo, Roberto, Elizabeth e Maria Tereza. Além deles, a amizade entre o deputado e Tuma rendeu o mesmo privilégio para Romero Costa Maranhão e Antonio Alves Neto, auxiliares e amigos do deputado.
A Folha tentou localizar Tuma para falar sobre o assunto na quinta e sexta-feira, não obtendo retorno às várias ligações telefônicas feitas para o seu escritório e para a sua casa.
As carteiras foram emitidas e assinadas pelo então diretor da PF em 1992, durante o governo de Fernando Collor (1990-92).
Nessa mesma gestão, o novo senador do PL paulista exerceu também o posto de diretor da Receita Federal e era uma das pessoas mais influentes na hierarquia do poder em Brasília.
No mesmo governo, Fiuza ocupou o cargo de ministro da Ação Social, após a saída de Margarida Procópio, acusada de envolvimento em casos de corrupção.
Estava sob a responsabilidade de Tuma, nesse período, inquéritos da PF com o objetivo de apurar irregularidades nesse ministério.
Passarinho
A força de Tuma no governo Collor era tanta que o ex-ministro Jarbas Passarinho atribuiu a ele a sua queda do cargo de ministro da Justiça, em 92.
Passarinho havia determinado a realização de investigações sobre a possível conivência de Tuma em operações de contrabando que teriam sido realizadas em Foz do Iguaçu (PR).
Em 30 de março de 92, o então ministro da Justiça confirmou à Folha que havia dado ordens para que fossem feitas as investigações. Meses depois, Passarinho foi afastado pelo ex-presidente Collor.

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