São Paulo, domingo, 6 de novembro de 1994
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Esses jornalistas

JANIO DE FREITAS

Os militares já perceberam um dos esforços para envenenar no nascedouro a colaboração necessária ao combate contra a violência bandida no Rio. Está clara nas palavras do general Gilberto Serra, chefe da Comunicação Social do Exército: "Se os policiais cariocas acreditarem no que saiu nos jornais, terão má vontade diante da colaboração de que precisamos".
Limpeza da Polícia Civil pelo Exército, substituição forçada de comandos da PM, exigência de simplificação acelerada dos processos já existentes contra policiais, os traficantes estão mudando de Estado e os militares acham que a polícia não age –tudo isso, e muito mais, compõe um noticiário global, que ocupa muito jornal do Brasil, mas não tinha ocupado os militares nos seus estudos da operação.
Os milagres da eletrônica não bastam: a telepatia entrou em cena. Você liga a TV às oito e ouve que "Uê, o traficante mais procurado do Rio, está planejando sua mudança para São Paulo, onde pretende comprar uma casa no bairro tal". Uê pensou, o repórter captou.
Se você gosta de escrever continhos, está apto a fazer carreira em certos meios de comunicação.
Imagem real
O cargo de ministro da Fazenda, dado como propulsor definitivo da imagem positiva de Ciro Gomes no empresariado e nos meios de comunicação, saiu-lhe como o chamado tiro pela culatra. Em vez da consagração, o desgaste com velocidade incomum.
Ciro Gomes não tem o que fazer no Ministério da Fazenda. As decisões ali são da equipe já encontrada por ele, ficando-lhe um papel apenas figurativo. Sair por aí, a cada dia falando para um pequeno auditório, pareceu-lhe melhor do que o ócio evidente em Brasília. Mas, além da falta de algo mais inteligente e original para dizer, o seu jeito em tudo grosseiro o impede até de cumprir a mera função de garoto-propaganda desempenhada por seus dois últimos antecessores, expondo o trabalho ou encobrindo os engasgos da equipe.
Entre a figura projetada pelo Ceará e a figura que se dissolve quando exposta, fica mais uma demonstração do que resulta quando grossas verbas oficiais são destinadas à promoção de imagem política, que, por sua vez, encontra portas abertas em um jornalismo que se satisfaça com as aparências e com o mais fácil.
Há muitos Ciros Gomes por aí.
Pelo ralo
Os jornais divulgam o necessário, e às vezes muito mais do que isso, sobre cada privatização –antes, durante e depois dela. Privatizações, como negócio, só interessam a um pequeno grupo de empresários. Apesar disso, volta o BNDES a programar uma campanha publicitária sobre as privatizações a serem feitas. Aos seus dirigentes não parece que já foi aberrante este gasto inútil feito pelo banco, em publicidade tola, quando dirigido por Eduardo Modiano.
A verba da campanha agora pretendida, ao que foi divulgado antes da recente concorrência entre agências, é de R$ 10 milhões. Ah, como sobra dinheiro nas mãos desse governo que não cuida da saúde, da educação, da segurança, da habitação popular por falta de dinheiro.

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