São Paulo, domingo, 6 de novembro de 1994
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Trem ficou conhecido como avião dos covardes

CAROLINA CHAGAS
DA REPORTAGEM LOCAL

Na década de 60, o Trem de Prata que volta a fazer comercialmente o trajeto Rio-São Paulo em dezembro, era conhecido como avião dos covardes.
Músicos, empresários, arquitetos, artistas e escritores que tinham medo de fazer viagens aéreas embarcavam no trem que servia por uma noite de biblioteca, bar, restaurante, ou ponto de referência do início de tumultuados romances.
"Fui seduzida por Vinicius em uma das viagens do Trem de Prata", conta a carioca Maria Christina Gurjão. O Vinicius a quem ela se refere é o de Moraes. Christina foi a quinta mulher do poeta e mãe de sua última filha, Maria.
Vinicius de Moraes era dos mais assíduos viajantes do Expresso Santa Cruz.
Depois de ver um amigo morrer com uma hélice no estômago em 1946 durante um desastrado vôo de hidroavião francês, ele fazia de tudo para não viajar de avião.
Foi em uma de suas viagens a São Paulo que ele começou a compor os primeiros versos de "Formosa", em homenagem a uma mulata cheia de curvas com quem flertou uma noite inteira com o violão de Baden Powell ao fundo.
Christina Gurjão era cobiçada por Vinicius desde quando ela tinha 15 anos. "Ele vivia me pedindo em casamento", conta. Ela, sabendo de quem se tratava (Vinicius teve nove mulheres), sempre dava um jeito de se esquivar.
Em uma madrugada de setembro de 1965, quando Vinicius viajava para São Paulo com o poeta chileno Pablo Neruda, Rubem Braga e Christina (mascote da turma) não deu mais para resistir.
Os dois acabaram tomando a última cerveja juntos no restaurante e Christina, que estava com a pior cabine do trem, sucumbiu ao convite de Vinicius de dormir na sua. A noite, iniciada no trem e arrematada no hotel Ca'd'Oro, acabou em um ano de casamento.
Foi também em uma de suas viagens que Vinicius começou a compor os primeiros versos de "Formosa", em homenagem a uma mulata cheia de curvas com quem flertou uma noite inteira, com o violão de Baden Powell ao fundo.
Dessa vez ele não teve sucesso.

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