São Paulo, domingo, 6 de novembro de 1994
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Uma solução para os congestionamentos

CANDIDO MALTA CAMPOS FILHO

Cada prédio de apartamentos que se constrói em São Paulo multiplica a geração de viagens por terreno onde são construídos por 40, se são quatro apartamentos por andar, em dez andares na Z2, ou se são dois apartamentos por andar, em 20 andares nas Z3 ou Z4. Essa é a ordem de grandeza na passagem de um bairro horizontal para os dois tipos básicos de bairro vertical em nossa cidade.
Todos reclamamos dos congestionamentos crescentes, mas poucos se dão ao trabalho de analisar as soluções alternativas. Evidentemente a solução não está em parar de fazer prédios. O incentivo a modos horizontais de moradia, como vilas e condomínios, constituem uma saída já em plena execução, conduzida pela própria força do mercado e ajudada por legislações promulgadas com essa finalidade, como a recente lei de vilas (que está custando o prefeito promulgar, deixando o mercado aflito) e os loteamentos L4, de minha autoria técnica, quando secretário municipal do Planejamento em 1981.
Mas a solução definitiva, por um bom número de anos, está no transporte coletivo que atraia a classe média. O metrô, a cidade é unânime a respeito, seria a solução ideal. Mas o tempo que está sendo gasto para implantar uma rede suficiente para tirar muitos automóveis das ruas e tão grande que não dá para esperar seu término.
A cidade se paralisa, muito, antes dessa rede ficar pronta. Vejamos o porquê: até quatro anos atrás, a média histórica de construção do metrô era de 2 km por ano. A construção do metrô está praticamente parada há quatro anos. No ritmo histórico, para construirmos cerca de 350 km, completando os 400 km equiparáveis às redes de Paris, Londres e Nova York, seriam necessários 175 anos.
Se duplicarmos essa velocidade, levaria 87,5 anos. Se multiplicarmos por cinco essa velocidade, levaria ainda 35 anos. A solução para os nossos congestionamentos não pode tardar mais do que cinco anos, sob pena da cidade literalmente parar, não mais quando chove ou há um desastre nas marginais, mas permanentemente, no chamado centro expandido, dos rios Tietê e Pinheiros.
Deixar isso ocorrer significará aceitar uma degradação de nossa área urbana mais valiosa. O prejuízo não será apenas dos proprietários que teriam seus imóveis desvalorizados.
Será de todos nós, na medida que a base econômica será afetada, pois estando ela sendo modificada da indústria para os serviços, a qualidade de vida que se pode oferecer aos produtores desses serviços e seus usuários é crucial para uma economia sadia, sustentadora de empregos bem remunerados.
Tudo isso pode ser resolvido rapidamente se implantarmos um serviço de microônibus não poluentes movidos a gás, na rede viária existente, formando uma malha com linhas distanciadas não mais que 1.000 metros entre si. Esse sistema de ônibus, complementar ao existente na periferia-centro, se situaria no centro expandido, desde a Lapa até a Penha, desde Pinheiros até Santo Amaro.
A grande vantagem dessa solução está na sua implantação em poucos meses, com investimento público próximo de zero, se realizado pela iniciativa privada. Depende apenas de uma iniciativa pública que planeje o sistema e o licite.

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