São Paulo, domingo, 6 de novembro de 1994
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Bandeirantes caçavam "negros da terra"

CLÁUDIA PAS
DO BANCO DE DADOS

Mesmo antes de ser lançado, "Negros da Terra - Índios e Bandeirantes nas Origens de São Paulo", do historiador norte-americano John Manuel Monteiro, já era obra de referência para pesquisadores de história indígena e primorosa contribuição aos estudos sobre a formação de São Paulo.
O texto, originalmente tese de doutorado na Universidade de Chicago, em 1985, reconstitui a evolução da escravidão indígena e do bandeirantismo.
As incursões bandeirantes ao sertão, diz o autor, estão ligadas à demanda de mão-de-obra do planalto de Piratininga (que produzia trigo) e não, como defende a historiografia tradicional, à economia litorânea, já dominada pelos engenhos de cana-de-açúcar.
Tais expedições começaram com a colonização. Chegam ao auge no século 17, ao atingirem o Centro-Sul até a região do Guaíra, fronteira com o Paraguai, ocupada então pelos guaranis e aldeamentos dos padres jesuítas.
As grandes bandeiras estariam, assim, relacionadas a um momento chave da história paulista, quando a região deixa de ser uma das mais atrasadas da colônia e assiste à prosperidade agrícola em razão da mão-de-obra indígena.
O sertanismo, ao lado da expansão geográfica que involuntariamente permitiu, aparece sobretudo, então, como máquina de recrutamento forçado de escravos "gentílicos", ou os "negros da terra", como eram designados.
Monteiro também relata as questões legais e teológicas que envolveram a escravidão indígena. As coroas de Portugal e da Espanha permitiam exclusivamente o trabalho escravo do negro africano. Os jesuítas procuram defender os nativos, mobilizam o papa, entram em conflito com os bandeirantes, mas nem por isso deixam de ter uma posição ambígua, já que eles próprios usavam escravos indígenas em suas terras.
São questões detalhadas por Monteiro com apuro, em texto rigoroso e agradável.

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