São Paulo, domingo, 6 de novembro de 1994
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Contrabando é ameaça aos tesouros da velha China

The Independent De Londres

TERESA POOLE

O plano era ousado. Os quatro painéis esculpidos em pedra durante a dinastia Han, há 2.000 anos, cada um dos quais medindo 6 m e pesando mais de uma tonelada, haviam sido roubados de um templo antigo, sob encomenda.
Estavam escondidos num caminhão e foram descobertos por funcionários da alfândega de Hong Kong quando o motorista tentava passar pela fronteira. Não é coisa de um colecionador amador de antiguidades, comentou Li Kwankeung, comandante das barreiras da alfândega da colônia britânica.
Apesar da rígida política de exportação adotada pela China no tocante a antiguidades e relíquias culturais, muitas obras preciosas estão saindo do país. Neste verão o governo lançou uma operação para deter os saqueadores de túmulos e contrabandistas de antiguidades.
"Indivíduos movidos pela visão de lucros enormes estão escavando túmulos de forma descontrolada e pilhando museus, causando grandes danos", disse a agência oficial "Xinhua". Mas o mercado para relíquias chinesas de qualidade é tão lucrativo que os ladrões de túmulos continuam ativos.
Em 1993, a alfândega de Hong Kong apreendeu 238 peças, no valor de US$ 1,42 milhão, incluindo os painéis da dinastia Han. Nos nove primeiros meses de 1994, quatro apreensões renderam 512 peças, no valor de US$ 5,6 milhões. A mais valiosa era um bronze do século 15: uma figura de mulher sentada na posição de lótus, avaliada em US$ 3,1 milhões.
Segundo Li, as peças têm sido tiradas do interior da China, não das regiões costeiras. "Ultimamente o valor tem sido mais alto, o tamanho maior e as peças mais antigas. São peças recém-desenterradas de túmulos", disse ele.
Mais de 230 mil veículos passam diariamente pelas fronteiras da China com Hong Kong. Os contrabandistas usam também outras rotas. Não se conhece o volume real de relíquias que escapam.
Pela lei chinesa, nenhum artigo de mais de 200 anos pode ser exportado. Quem contrabandeia peças importantes se arrisca a mais de dez anos de cadeia ou mesmo à pena de morte.
Mas, em Hong Kong, antiguidades não são artigos restritos e só são apreendidas na fronteira por não estarem declaradas no manifesto do veículo. Uma vez na colônia, as antiguidades contrabandeadas não estão sujeitas a qualquer controle, a não ser que tenha sido prestada queixa de seu roubo.
Para os camponeses e ladrões de túmulos chineses, a tentação pode ser irresistível. Antiguidades de áreas rurais como Shaanxi –onde fica o túmulo de Qin Shihuang, primeiro imperador da China– são transportadas até Guangdong e de lá para Hong Kong. Funcionários corruptos são subornados para facilitar a passagem.
Em 1993 a alfândega chinesa apreendeu 12.308 peças, mas isso é apenas a ponta do iceberg. A China já havia revelado que em 1989 e 1990 40 mil túmulos foram roubados em apenas 11 regiões. Devido à escassez de equipamentos de segurança, os museus também são vulneráveis: mais de 30 foram saqueados em 1992, provavelmente sob encomenda.
Os antiquários de Hong Kong estão contando os dias que faltam para 30 de junho de 1997, quando a soberania do território passará à China. Muitos planejam tirar seus estoques da colônia antes disso.
Tradução de Clara Allain

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