São Paulo, terça-feira, 8 de novembro de 1994
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Ansiedade

NELSON DE SÁ
DA REPORTAGEM LOCAL

– Traficantes entregam armas e fogem de um morro carioca.
Eles deixaram não só as armas, como registraram o Jornal Bandeirantes e todos os demais noticiários, mas também uma tocante nota de despedida. A cena, que marcou a cobertura de ontem na televisão, contou com a presença do governador.
Tocante que fosse, não convenceu. No TJ, o âncora foi sarcástico. "É um ato muito nobre para ser verdadeiro, quando vem de bandidos." No Jornal Nacional, falou-se abertamente em "encenação" e sublinhou-se a presença do governador.
Se a televisão não acredita nos traficantes arrependidos, também não acredita nos policiais em ação. Não só no Rio, onde as operações da Polícia Civil são dadas como boicote ao comando central dos militares, mas nos demais Estados.
As ações fora do Rio são ridicularizadas a cada dia, na televisão. Ontem, no Rede Cidade, chamaram a Operação Favelas de "pífia", em São Paulo. No SBT, falando de Minas Gerais e do Rio Grande do Sul, a descrição foi "pirotecnia".
Ao que parece, a expectativa é de que nada vai acontecer, no Rio de Janeiro e no resto do país, até os militares entrarem em cena. Uma expectativa que mais lembrava ansiedade, ontem na televisão e no rádio, com manchetes do gênero:
– Porta-voz diz que a operação do Exército contra o crime organizado começou.
Convênio e intervenção
Desde o início, não foi preocupação da Globo tratar por "convênio" a presença federal no Rio de Janeiro. A palavra, já no primeiro dia, foi "intervenção". O "convênio" surgia como formalidade.
Ontem, em cobertura da Globo reproduzida pela CNN, no programa World Report, o "convênio" não surgiu sequer como formalidade. A palavra foi "intervenção", mais um adendo significativo –militar.
Meses
– Dieese mostra que a cesta básica subiu mais de 11% no mês passado.
Com Fernando Henrique Cardoso evitando o governo paralelo, com Itamar Franco preocupado com a namorada, com Ciro Gomes cada vez mais alheio, manchetes como a do TJ mostram que os dois meses que faltam para a posse vão ser intermináveis.

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