São Paulo, terça-feira, 8 de novembro de 1994
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Número de PMs diminui em dois anos

MARCELO GODOY
DA REPORTAGEM LOCAL

A Polícia Militar encolheu nos últimos dois anos. Foram contratados 6.086 policiais mas 8.165 saíram da corporação -déficit de 2.079 PMs, segundo o comando da PM.
O menor salário inicial de um policial civil é de R$ 148,86, mais gratificações que podem elevá-lo para até R$ 297. Há 13.211 presos cumprindo pena irregularmente em cadeias, quando deveriam estar em penitenciárias.
A Polícia Civil tem no Estado 5.038 carros, mas a delegacia do Capão Redondo, o bairro mais violento de São Paulo, tem apenas dois Gols. Os outros quatro carros da 47º, a delegacia local, estão quebrados.
A Secretaria de Administração Penitenciária tem 25% dos funcionários em funções burocráticas, a Polícia Civil, cerca de 10% e a PM, 5%.
O efetivo atual da PM é de 73.170 homens. Por lei, pode ter 87.681. No entanto, não consegue preencher 14.511 vagas. O índice de reprovação nos concursos de admissão de novos policiais é de 85%.
A segurança pública foi apontada como principal problema a ser enfrentado pelo próximo governador do Estado por 30% da população, segundo pesquisa Datafolha publicada em 30 de outubro.
Os números oficiais mostram que o Estado não investe nos pontos que a população aponta como prioridade: contratação de maior número de policiais, aumento do efetivo nas ruas, melhoria do equipamento usado e o combate à corrupção.
Falência
"O modelo de segurança está falido, não só em São Paulo, mas no Brasil", diz João Benedito de Azevedo Marques, 55, presidente do Conselho Estadual dos Direitos da Pessoa Humana.
Para ele, a falência se deve à crise econômica que provoca o aumento da criminalidade, o aviltamento dos salários dos policiais e o desperdício de dinheiro nas polícias Civil e Militar.
Para o coordenador do Núcleo de Estudos da Violência da USP (Universidade de São Paulo), Paulo Sérgio Pinheiro, 48, a crise da segurança pública é uma crise de gestão.
Pinheiro aponta três saídas para o problema: avaliação de desempenho dos policiais, controle de qualidade do trabalho policial e unificação dos comandos das duas polícias.
"É um descalabro a falta de recursos para órgão vitais como os Institutos Médicos Legais. Enquanto isso, a PM e a Polícia Civil mantêm centros de operações e comunicações distintos para exercerem a mesma função."
Efetivo
Marques e Pinheiro não acreditam que a contratação de um número maior de policiais diminua a criminalidade. "Não há correlação efetiva entre o aumento do número de policiais e a queda da criminalidade", disse Pinheiro.
Nos últimos quatro anos, 6.271 homens deixaram a Polícia Civil. "Com o salário pago, o Estado treina homens para que eles deixem a polícia e façam segurança privada", afirma o deputado estadual Roberval Conte Lopes (PPR), 47.
Para Marques e Pinheiro, antes da contratação de mais policiais, é preciso retirar os que estão em funções burocráticas e passá-los para o policiamento das ruas.
"Qual o interesse desses policiais em bater carimbos no Detran (Departamento Estadual de Trânsito), enquanto tenho sete escrivães para 1.700 inquéritos?", disse o delegado titular da 47º DP, Luiz Antônio Rezende Rebello, 41.
O número de PMs está diminuindo e não há equipamentos para delegacias e para o combate à corrupção policial.
As polícias Civil e Militar têm nove helicópteros, 12.775 carros e estão armadas com fuzis, metralhadoras, espingardas, escopetas, pistolas e revólveres.
"Parte da frota da PM serve apenas para levar coronéis do trabalho para casa e vice-versa. Outra parte está sem condições de uso", disse o deputado Conte Lopes.
Prisões
Até setembro deste ano, 348 policiais civis tinham sido presos só na capital do Estado. Na sexta-feira passada, só 79 deles estavam no presídio especial da Polícia Civil.
"É preciso fortalecer a corregedoria e criar unidades volantes com o poder de abordar policiais a qualquer momento para saber o que eles estão fazendo", disse o corregedor da Polícia Civil, Ruy Estanislau Silveira Mello, 45.
Até setembro, tinham sido abertos no Estado 2.473 inquéritos para investigar crimes supostamente cometidos por policiais civis e 130 deles foram demitidos.
No mesmo período, a PM demitiu e expulsou 254 homens. Só no último mês, dez policiais militares foram presos em flagrante roubando e desviando cargas apreendidas.
"O dramático é que mesmo havendo denúncias de corrupção, a população sabe que quase nada será apurado", disse Pinheiro.
O deputado estadual Elói Pietá (PT), 50, defende um expurgo nas duas polícias. "Todo policial suspeito deve ser imediatamente afastado."
Para ele, a forma mais eficaz de se combater a corrupção policial é com mecanismos de controle externo através do Ministério Público, do Judiciário e da sociedade.

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