São Paulo, terça-feira, 8 de novembro de 1994
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Na África, os homens preferem as gordas

ELISABETH KULAKOWSKA
COORDENAÇÃO DO "WORLD MEDIA"

Se nas culturas ocidentais as mulheres se sacrificam para ficar parecidas com as top models, com pernas infinitamente longas e formas "sem formas", as jovens em flor de um pequeno vilarejo da Nigéria se esforçam para ganhar curvas antes de seu casamento, para terem certeza de que vão deixar loucos seus futuros maridos. Aquelas que chamamos de "gordas" com um certo incômodo ou até desprezo na voz, são na verdade mulheres de silhueta escultural, com contornos doces e formas voluptuosas.
Mesmo se a África parece ser o último lugar onde as mulheres de formas exuberantes são valorizadas, a história da beleza feminina nos ensina que o culto da magreza, ainda que já presente na Antiguidade, não teve sempre adeptos incondicionais no Ocidente.
A beleza "pneumática", que conheceu sua glória durante a Renascença italiana, obedecia a cinco mandamentos: forma, harmonia, moleza, doçura e suavidade, informa Geneviève Leroy, autora de "História da Beleza Feminina através dos Tempos". Para serem realmente apreciadas e valorizadas, diz Leroy, "as formas opulentas deviam obedecer a regras de harmonia e de graça".
Miss "Awulaba", eleita uma vez por ano na Costa do Marfim, satisfaz esse tipo de exigência. "Awulaba" quer dizer mulher com "eme maiúsculo", ou se poderia dizer "a feminilidade em todo seu esplendor". Na verdade, Miss "Abulawa" deve corresponder aos critérios de beleza tradicionais africanos.
Akim Wazi, da associação "Images D'Ailleurs", explica: "o que os homens africanos gostam nas mulheres é a bunda arredondada mas firme, uma silhueta mais rechonchuda, enfim tudo o que dá sensualidade a uma mulher. O que há de mais excitante no corpo de uma mulher são suas redondezas."
Mesmo se o Ocidente e suas Claudia Schiffers começam a impor suas medidas ao continente negro, os homens africanos continuam na defensiva. "Claudia Schiffer", diz Akim Wazi, "é passável. Ela não tem muitos recursos".
Entretanto há alguns anos o culto da magreza começou a seduzir os africanos. O frenesi dos concursos de miss tomou conta da África negra. O Congo, o Benin, a Nigéria têm uma vez por ano seu show televisivo consagrado à eleição da "mulher mais bela do ano", com o sorriso congelado e o corpo empalhado de costume.
O estilista de moda nigeriano Alphadi gosta das mulheres de seu país e quer criar para elas. "Durante muito tempo vesti a mulher fatal, alta, magra e bonita. Achei isso ridículo, porque na África a mulher fatal também pode ser gorda e bela em suas redondezas", diz.
Wally, estilista da Costa do Marfim, diz que para ela "a mulher negra tem muita classe e é uma deusa naturalmente."
Definitivamente, a tirania das "altas e magras" se abrandou. Elas não têm o monopólio da sedução. Mas se você é pequena e rechonchuda, é melhor também ser divertida.

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