São Paulo, terça-feira, 8 de novembro de 1994
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24 horas na vida da mulher

DAS 6H ÀS 9H

24 horas na vida da mulher
Elena: "Se não tenho nada marcado, fico em casa de manhã. Faço faxina e preparo o jantar. Este imóvel é do século passado, mas é confortável para os padrões russos. Em princípio ele é nosso depois da lei que autorizou a privatização das moradias, há dois anos. Pagamos ainda 400 rublos por mês - o que não é nada, o equivalente a quatro bilhetes de metrô. Em compensação, alugamos uma vaga de estacionamento por 28 mil rublos."
Mayumi: "MInha filha Ririka vai em geral à escolinha, onde passa o dia todo. Agora que está em férias, fica comigo. Fico muito sozinha, como a maioria das mulheres japonesas. Meu marido vem para casa duas a três vezes por semana e fica um dia por mês o tempo todo conosco. Às vezes acho muito difícil, mas tive que me acostumas."
Gilda: "Corro uma hora a cada dois dias por volta da 7h30. Se tenho um encontro cedo, acordo ainda mais cedo para correr - é uma necessidade, o momento em que me encontro. Se Nicholas acorda e seu pai já saiu para trabalhar, ele senta na frente da TV e me espera. Ele vai à escolinha três vezes por semana. NOs outros dias é Angelica, nossa empregada, que fica com ele."
Mayumi: "Hoje, Ririka vai comigo no meu ensaio de rock em Yokohama, a 30 minutos de trem daqui. Ensaio com um grupo todas as terças de manhã das 10h às 11h30. Mesmo depois de ter uma família, fiz questão de manter esse hobby que tenho desde a universidade: tocar rock. No Japão, uma mulher casada normalmente deixa esse tipo de ocupação, que em geral dá uma 'má reputação'."
Elena: "Passamos muito tempo cuidando de burocracias, porque toda horqa aparecem novas leis. HOje de manhã, temos que ir ao escritório que despacha certificados médicos necessários para ter uma licença de venda. Como essa nova licença é muito cara, nós dissemos que eu alugo a Dmitri 1 metro quadrado da loja para venda e que o resto é depósito. Todo mundo tem que conseguir dar um jeito."
Gilda: "O telefone é parte integrante de minha vida. Todo dia de manhã escuto meu 'correio falado' e acerto os negócios em curso. Gosto muito de ter uma empregada, assim não preciso cozinhar nem fazer faxina. Angélica é da Guatemala, mora num bairro popular e vem todas as manhãs de ônibus. Em geral, nós a levamos para casa à noite."
Mayumi: "Nosso grupo de rock, inteiramente feminino, chama-se CAB, soa bem. Comemos juntas na cafeteria ao meio-dia - em geral todas vêm com os filhos - e conversamos sobre nossos projetos. Às vezes nos apresentamos em público, mas é difícl ter chance de fazer isso."
Gilda: "O resto do dia se organiza em função dos encontros. Depois de comer, se tenho tempo, passo na lavanderia ou deixo Virgil no salão para cachorros. Tudo é por aqui, a escola do meu filho fica a dez minutos de carro, o escritório de Shane, também. a auto estrada é aqui do lado, mas estamos a 45 minutos de Los Angeles. Temos dois carro, porque aqui não se faz nada sem eles.
Elena: "Hoje, meu filho Georgi está de férias e nós comemos juntos lá pelas 13h, depois de fazer compras aqui perto. Georgi estuda num colégio particular "cristão humanista", mas aberto a todas as religiões. Eu o batisei há cinco anos, mas não me sentia pronta para fazer o mesmo comigo. Fui educada no ateismo, tudo simples. Hoje acho que as coisas são mais complicadas. Mas não posso me considerar crente."
Mayumi: "Os três primeiros anos depois do nascimento de Ririka, fiquei cuidando dela. Me sentia muito sozinha e chorava sempre. Decidi então fundar uma rede para reunir mães que desejam manter contato com a vida ativa. Temos bastante sucesso e muitos artigos publicados na imprensa feminina. Vou regularmente a um pequeno escritório que alugamos para tratar da correspondência com Junko, que é um pouco a secretária do grupo. Ela costuma vir com seus dois filhos."
Elena: "Nossa loja , aberta no início de 1993, fica a dez minutos a pé de casa. Temos uma vendedora, yulia, o que me permite ficar em casa cinco manhãs por semana. Vendemos roupas, eletrdomésticoss, sapatos, tudo. Era preciso diversificar mais, mass não é fácil em 12 m2. e é preciso ficar competitivo, porque todo mundo hoje faz comércio na Rússia."
Gilda: "Faço regularmente o tour das grandes lojas onde minha empresa tem estande. A mais próxima fica a uma meia-hora, em Beverly Hills, e a mais longe em San Diego, a umas duas horas de estrada. Eu acerto as coisas com as vendedoras. O contato pessoal é importante. Gosto da valorização que o trabalho dá, mas meu filho é a coisa mais importante para mim. Se eu visse que ele estava mal, pararia tudo na hora."
Gilda: "A noite é o único momento em que ficamos juntos. Podemos brincar um pouco com Nicholas. Sempre trabalhei para ter uma situação privilegiada e acho que consegui. Gosto das vantagens e facilidades da vida na Califórnia, que nos permite morar num bairro em que não há violência. Saímos bastante e todas as quartas-feiras vamos jantar na casa dos pais de Shane que moram a quinze minutos daqui. É sagrado."
Mayumi: "Em geral, começo a preparar o jantar por volta das 17h e Ririka me ajuda sempre. Comemos por volta das 18h30. Perdi a esperança de ver mais meu marido. Como todos os homens ele trabalha muito para melhorar sua situação e cultivar suas relações profissionais. A vida é muito cara no Japão."
Elena: "Depois do jantar, cuido da contabilidade. Compramos um computador, mas ainda não domino completamente o programa. O lucro líquido do nosso negócio não ultrapassa 2% a 3% das vendas. Nosso futuro imediato está ligado ao aluguel da loja e às novas taxas. Fora isso, tudo depende da situação política do país. E aqui não dá para prever nada."
Depois das 20h
Mayumi: "Antes de pôr Ririka para dormir nós brincamos um pouco. Depois eu cuido da correspondência e às vezes vejo TV ou ensaio guitarra. Quando era criança sonhava em me casar com um príncipe, A vida é sempre diferente."
Elena: "A única coisa que eu assisto na TV é a "Santa Bárbara". É minha série preferida. Antes eu lia muito, mas agora não tenho mais tempo. Quando tomei a decisão de deixar meu emprego de engenheira pensei que minha vida ia afundar. Hoje sei que não tinha outra escolha."
Gilda: "Esta noite nós vamos a Pasadena olhar vitrine e comer num restaurante italiano. De volta para casa contamos uma história para o Nicholas, que dorme entre 9h e 10h. Eu não gosto de ir dormir antes de deixar tudo arrumado. Nunca tenho tempo de assistir televisão mas gosto de ler as revista fáceis para me relaxar. E às vezes, já tarde telefono para uma amiga para conversar."

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