São Paulo, terça-feira, 8 de novembro de 1994
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Devi, a justiceira hindu

DO "WORLD MEDIA"

Na tradição de Boonie Parker e Calamity Jane, Phoolan Devi é conhecida em toda a Índia como "a rainha dos bandidos". Por ter enfrentado os fortes, ela é hoje um símbolo para as castas mais baixas. Essa mulher pequena –cuja verdadeira idade se ignora, pode ser 32, 36 ou 40– decidiu que não faria o papel da vítima e já conta com um pesado prêmio: onze anos de prisão por 22 assassinatos.
Sua história é ao mesmo tempo simples e terrível. Originária do Estado de Uttar-Pradesh (no norte do país), Devi, nascida numa casta miserável, decidiu nos anos 70 mudar de vida, depois de dois casamentos fracassados.
Outras mulheres iriam procurar um terceiro marido, mudar de cidade ou pôr fim nos seus dias. Devi preferiu liderar uma gangue de bandidos e percorrer o centro-norte da Índia com um certo sucesso.
Tudo desmoronou em 14 de fevereiro de 1981. Não conseguindo encontrar, com a ajuda dos seus homens, os dois hindus da casta nobre dos "takhurs" que mataram seu amante e abusaram, Devi –cujo nome em hindi significa "deusa das flores"– decidiu passar seu ódio para 22 indivíduos daquela mesma casta. Foram 22 cadáveres.
A jovem, então comparada à terrível Kali, deusa da morte, continua sua campanha sangrenta no vale de Chambal, lugar do banditismo hindu há séculos. Torna-se tema de inúmeros livros e filmes produzidos em Bombaim. Em 1983, rende-se às autoridades. É colocada na cela na sessão reservada aos criminosos perigosos. Prisioneira modelo segundo seus guardas, apesar das 49 acusações que pesam sobre ela –todas por assassinato ou sequestro– Devi aprende a ler, escrever e fazer tricô.
Libertada este ano, ela começa sua terceira vida. O uniforme cáqui, a cartucheira e a bandana amarrada na cabeça fazem parte do passado. Em um sári vermelho e verde, a ex-rainha dos bandidos afirma em sua saída da prisão que não tem medo das represálias das famílias de suas vítimas, apesar de ter sido ameaçada de morte.

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