São Paulo, terça-feira, 8 de novembro de 1994
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Calment, a avó do planeta

DO "WORLD MEDIA"

O que há em comum entre a criação de "Carmen" de Bizet e o fim do ultimatum da Otan na Bósnia? Resposta: Jeanne Calment. Nascida em Arles (no sul da França) em 1875 com a ópera, ela festejou seu aniversário com o ultimatum. Há três anos inscrita no "Guiness Book" como a mulher mais velha do mundo, esta francesa já ultrapassou a estimativa de esperança de vida em seu país há quase 40 anos.
Calment parou de fumar e de beber vinho do porto há dois anos, mas continua devorando chocolates. Viu passar 17 presidentes franceses, a construção da torre Eiffel, a morte de Victor Hugo e de Andy Warhol, duas guerras mundiais, os chapéus com plumas e a minissaia.
Votou pela primeira vez aos 70 anos, quando as mulheres passaram a ter esse direito na França. O comunismo foi para ela uma passagem: já era mãe de família respeitável aos 42 anos quando da Revolução russa de 1917. Preparava-se para comemorar seus 117 anos, quando ruiu o regime soviético.
Viúva há 50 anos, passa o tempo assistindo à televisão, à missa de domingo e conversando com suas amigas. Claro que há uma diferença de idade, 90 anos em média. Suas amigas podiam ser suas filhas. Mas Calment tem a cabeça aberta e muitas coisas para contar: suas lembranças de Van Gogh, que encontrou na sua juventude (no fim do século passado) e que era "feio como o demônio", e as recordações dos anos loucos entre as duas guerras.
Ironia suprema, Calment –que mantém sua juventude graças ao azeite de oliva e a muito pó-de-arroz– esbanja intuição feminina e vendeu o apartamento em que mora em 1965 para um notário, que só terá direito a ele depois de sua morte. Ele continua paciente. A vovó do mundo, que ainda vive na cidade onde nasceu, diz a quem quiser ouvir que pretende bater o recorde do japonês Shigeyo Izumi, morto em 1986 com 120 anos e meio da idade. "Vou fazer um esforço", ela diz.

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