São Paulo, terça-feira, 8 de novembro de 1994
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"Efeito Ciro" reduz imóveis para alugar

VERA BUENO DE AZEVEDO ;FÁTIMA FERNANDES
DA REPORTAGEM LOCAL

A simples declaração do ministro da Fazenda, Ciro Gomes, de que é favorável à suspensão da denúncia vazia nos contratos de aluguel residencial, já reduziu a oferta de imóveis para locação em São Paulo.
"Muitos proprietários, temendo que a fala do ministro signifique novas intervenções do governo nos contratos, já desistiram de alugar seus imóveis", diz José Roberto Graiche, presidente da Aabic (Associação das Administradoras de Bens Imóveis e Condomínios).
Na imobiliária Júpiter, por exemplo, o número de unidades ofertadas caiu 40% desde a última sexta-feira. Resultado: a expectativa é a de que os preços disparem ainda mais.
Desde o Plano Real, em julho, os aluguéis iniciais já subiram 33%, contra uma inflação de 15,67%, medida pelo IPC-r, segundo representantes do mercado.
Para José Roberto de Toledo, sócio-diretor da Lello Imóveis, se realmente a denúncia vazia for suspensa, "a oferta de imóveis para locação, hoje em torno de 2.500 unidades, cai 50% em um mês".
O "efeito Ciro" pode reverter os sinais de recuperação registrados no mercado após o Plano Real. Segundo pesquisa da Aabic, a oferta aumentou de 2.000 imóveis em fevereiro para 3.000 em outubro, em São Paulo.
Entretanto, Graiche lembra que este número ainda está longe de atender à demanda na cidade. "Seriam necessários entre 6.000 e 7.000 imóveis disponíveis ao mês", diz ele.
Desde 1990, o único ano no qual oferta e demanda estiveram equilibrados foi 1992, quando entrou em vigor a nova lei do inquilinato, introduzindo a denúncia vazia nos contratos de locação residencial, diz Graiche.
Naquele ano, foram ofertados, em média, 5.500 imóveis por mês, para uma demanda de 5.000 unidades. Como consequência, o valor do aluguel inicial subiu 663,77%, enquanto a inflação, medida pelo IGP-M, chegou a 1.174,47%.
A suspensão da denúncia vazia não traz qualquer benefício para o mercado de locação, diz Hubert Gebara, conselheiro da Fenadi (Federação Nacional das Administradoras de Imóveis).
Para ele, esta seria mais uma interferência do governo nos contratos de locação, tornando o mercado ainda mais "turbulento e confuso". "Só a declaração do ministro já assustou o locador", diz.
Na verdade, independentemente da denúncia vazia, os proprietários já se sentem inseguros em fazer um contrato de longo prazo (30 meses), com reajuste anual, no início de um plano econômico de resultados ainda incertos e com a inflação ascendente, afirma o presidente da Aabic.
Segundo Ricardo Yazbek, presidente do Secovi (sindicato da habitação), o ideal seria que o governo não interferisse tanto no mercado, deixando que as partes fixassem livremente as regras dos contratos. "Isso poderia trazer de volta o investidor, resolvendo, a médio e longo prazos, a falta de oferta de imóveis para locação".

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