São Paulo, terça-feira, 8 de novembro de 1994
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Trabalhos com linha encerram exposição

KATIA CANTON
ESPECIAL PARA A FOLHA

Esta é a última chance do ano para ver a série de exposições intitulada Poéticas Paulistanas. As coletivas, divididas em cinco módulos, reunindo, de cada vez, três artistas jovens, foram inauguradas em junho deste ano.
Pensadas de maneira inteligente pelos curadores Maria Izabel Ribeiro, Marcelo Araújo e Marcos Moraes, as séries foram amarradas, uma a uma, em torno de questões que delineiam a produção contemporânea. Não se trata de um corte horizontal, que generaliza os trabalhos, mas sim da criação de temas pontuais, onde se articulam coincidências e contrapontos estéticos.
Os três primeiros artistas expostos orquestraram discussões ao redor da cor; os segundos, do gesto; os terceiros, da materialidade. Os últimos estabelecem um questionamento sobre a linha. E a linha aparece camuflada, mascarada de várias maneiras nas obras dos artistas Marco Buti, Vera Rodrigues e Sonia Hannud. Eis um trio heterogêneo.
Marco Buti, paciente, consistente em seu trabalho com a gravura em metal, tem pleno domínio da síntese. Ele apresenta duas séries. Uma série branca, outra preta, construídas através da difícil técnica do berceau. Das gravuras brotam sutis traços, materializados através de uma associação com os estímulos da paisagem urbana.
Mas seus traços jamais viram formas. Eles se sobressaem em fundos já marcados pelos erros e
acertos de trabalhos previamente feitos nas chapas.
As linhas de Vera Rodrigues seguem o caminho inverso das de Buti. Em vez de sulcar a chapa, matriz da gravura, Vera sulca a obra final, feita com camadas de papel aqua, sanduichados entre tecidos. O compacto recebe sedimentos de tinta e, ao final, é deitado ao chão e sulcado com riscos e traços, perfurado com pontos.
A artista trata seu papel-com-tecido como um pentagrama, a ser recheado com notas musicais, porque a gestualidade que ela aplica aos sulcos traduzem um ritmo, um timbre, uma tonalidade.
E ganha uma mágica organicidade quando combinada às nuances de cor, em múltiplas camadas de tinta.
As obras de Sonia Hannud contrastam imensamente com a delicadeza dos trabalhos de Marco e Vera. Elas são lonas enormes, monocromáticas. Convidam o espectador a se afundar em um plano de cor sólida. Lembram a imensidão das telas de um expressionista abstrato, mas com um twist. Esse twist está nas dobras, formando linhas sutilmente tortuosas, que escorregam por entre as superfícies das lonas encharcadas de tinta.
Sonia, uma artista muito jovem e com talento personalíssimo, desembocou para a lona como evolução das pinturas que fazia em roupas. Escolheu o material porque queria ter controle total do processo de execução das obras. E tem. Sabendo que a lona enruga e encolhe, Sonia põe-se a pintá-la dos dois lados, alternadamente.
Quebrando a possibilidade de uma obra retilínea, ela inventa dobraduras, que se contorcem na maleabilidade do tecido. É o orgânico ironizando o racional.

Exposição: Poéticas Paulistanas
Onde: Espaço Cultural Citybank (av. Paulista, 1.111, tel. 011/887-9672)
Quando: De amanhã a 4 de dezembro (seg. a sex. das 10h às 19h, sáb., dom. e feriados das 10h às 16h; visitas monitoradas diariamente, marcadas por telefone)
Vernissage: Hoje, às 19h30

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