São Paulo, terça-feira, 8 de novembro de 1994
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Cinemateca apresenta ciclo com produção húngara pós-socialista

AMIR LABAKI
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

É uma espécie de ciclo "última chance". Quem perdeu a forte representação do cinema húngaro dispersa na recém-encerrada 18ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo tem até o próximo domingo para conferir seus principais títulos na Sala Cinemateca. O Novo Cinema da Hungria apresenta seis longas, com legendas em inglês, num conjunto que comprova a retomada da produção magiar cinco anos após o fim da experiência socialista.
"Deus Não Existe" (1993), de András Jeles, abre a mostra hoje, às 21h. Tudo se passa na Hungria de 1944. Através dos olhos da adolescente judia Eva, acompanha-se a ascensão do anti-semitismo no país durante o fim da Segunda Guerra. O alegre cotidiano de Eva vai sendo progressivamente corroído, encontrando ela refúgio apenas em seus encontros imaginários com seu duplo dickensiano, David Copperfield.
Jeles, que há dez anos ganhou projeção internacional com seu "Brigada dos Sonhos", impõe aqui um ritmo lento e introspectivo. É preciso chegar ao terço final de seu "Deus Não Existe" para aproveitar plenamente seu austero mergulho na ainda pouco explorada crônica da perseguição aos judeus húngaros.
Amanhã será a vez de "Woyzeck". Essa versão modernizada da peça romântica de Georg Buchner (1813-1837) pode valer ao diretor Janos Szász, 36, no final deste mês o Félix (o Oscar europeu) de melhor filme jovem do ano. Prêmio à parte, desde logo sinaliza a chegada à cena de uma nova e talentosa geração. "Woyzeck" é apenas o segundo longa de Szász.
Ainda mais jovem é Peter Reich, 31, responsável pelo drama romântico contemporâneo "Uma Garota Nunca me Afetou Assim" (1994), programado para quinta. O filme radiografa a vida amorosa da juventude da Budapeste pós-socialista. Na sexta, "Boa Noite, Príncipe" traz de volta o olhar neo-realista de János Rósza, 57.
Fechando o ciclo, o fim-de-semana faz uma espécie de minimostra Béla Tarr, 39. No sábado, é a vez da maratona de quase oito horas de "Satantango", versão fílmica para o romance de Lászlo Krasznahorkai sobre a Hungria profunda de uma aldeia rural abandonada. "Danação", de 1987, recupera no domingo um momento anterior da pesquisa do universo onírico de Tarr, através de um estranho triângulo amoroso. Nem só de Kieslowski, Kusturica e Szabó vive o cinema do Leste Europeu.

Mostra: O Novo Cinema da Hungria
Onde: Sala Cinemateca (r. Fradique Coutinho, 361, tel. 011/881-6542)
Quando: de hoje a 13 de novembro

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