São Paulo, terça-feira, 8 de novembro de 1994 |
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O suicídio dos ricos
JOSIAS DE SOUZA BRASÍLIA – O nosso fracasso social não é obra do acaso. Trata-se de algo proposital. O Brasil dos últimos anos fez uma opção preferencial pelo erro. Vivemos num país suicida.Note-se, a propósito, o que se passa com alguns dos principais empresários brasileiros, os mais ricos. Eles têm fome de esperteza. Alimentam-se de pequenas vantagens. Levantamento da Receita Federal demonstra que nossos milionários não pagam impostos. O curioso é que, embora soneguem, não podem ser classificados como sonegadores. Do ponto de vista estritamente técnico, eles agem dentro da lei, aproveitando-se de pequenas brechas da conturbada legislação fiscal. Esquivam-se do Fisco brandindo os textos legais. Aqui chegamos ao ponto: principais vítimas da violência urbana, nossos ricaços recusam-se a entregar ao Estado o dinheiro necessário para restabelecer a ordem em termos duradouros. Acham que enxergam longe. Mas têm a vista curta. Imaginam-se inteligentíssimos. Mas, na verdade, entregam-se a uma lógica de toupeira. A riqueza nacional prefere gradear portas e janelas a pagar regularmente os seus impostos. Prefere alimentar a criminalidade a dotar o Estado de condições mínimas de ação. A salvação dos ricos está na desmoralização do seu próprio sistema de vida. Incontáveis fortunas terão de ser assaltadas para que os milionários entendam a importância do recolhimento de impostos. Muitos bacanas da Zona Sul do Rio ainda terão de ser sequestrados para que a riqueza compreenda a imperiosa necessidade de reforçar a presença do Estado nas favelas cariocas. Os milionários brasileiros atingiram a plenitude da idiotice. Pautam-se pela lógica do Tio Patinhas. Entopem bolsos e cofres com um dinheiro que podem usar cada vez menos. Com o dinheiro que esconde do Fisco, o tubaronato compra jóias para adornar os seus cofres. Adquire carros importados para desfilar o próprio medo no asfalto de nossas principais cidades. Para que o Brasil abandone a vocação suicida, é preciso que os milionários passem a recolher os seus impostos antes de reclamar da ineficiência da polícia. Texto Anterior: Letargia ou sabedoria? Próximo Texto: Armistício e profissionalização Índice |
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