São Paulo, quinta-feira, 10 de novembro de 1994
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Clinton admite parte da culpa pela derrota

CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
DE WASHINGTON

O presidente dos EUA, Bill Clinton, 48, disse ontem que aceita "uma parte da responsabilidade" pela acachapante derrota sofrida por seu partido, o Democrata, nas eleições de anteontem.
Rouco, abatido, solene, Clinton deu entrevista coletiva de 40 minutos na Casa Branca, na qual prometeu tentar trabalhar com o Congresso dominado pela oposição nos próximos dois anos, a segunda metade de seu mandato.
O presidente tentou mostrar que há vários pontos da agenda do Partido Republicano que são aceitáveis para ele, entre eles a possibilidade de o presidente vetar partes de projetos de lei, orçamento equilibrado e limites para o número de reeleições de parlamentares.
Mas ele disse que vai se opor a qualquer proposta que interrompa a recuperação econômica e "leve o país de volta às políticas que fracassaram no passado", referência aos governos Reagan e Bush.
O presidente foi o maior derrotado das eleições de anteontem. Apesar de seu governo até aqui ter sido capaz de assegurar crescimento da economia e diminuição do desemprego, sem fazer disparar a inflação, ele continua sendo visto com desconfiança pelo público.
As pesquisas de boca-de-urna feitas na terça-feira indicaram que 51% dos eleitores desaprovam o governo Clinton.
Essa condenação se deve mais à personalidade do presidente do que às políticas que ele tem posto em prática. Para a maioria dos norte-americanos, Clinton mente e não cumpre suas promessas.
Além disso, ele é identificado com a ala mais liberal do Partido Democrata, da qual se aproximou depois de ter tomado posse, e suas teses de maior participação do Estado na formulação de políticas sociais são rejeitadas pela maioria da opinião pública.
Para ter alguma chance de sucesso nos próximos dois anos, Clinton precisa em primeiro lugar unir o seu partido, o que ainda não conseguiu.
Durante a primeira metade do seu governo, os parlamentares conservadores do Partido Democrata votaram muitas vezes com os republicanos.
Clinton terá também que usar o poder presidencial de veto, o que ainda não fez, para barrar iniciativas legislativas a que se oponha.
Caso Whitewater
A pior notícia para o presidente é a chegada do senador Alfonse D'Amato à presidência da Comissão de Bancos do Senado.
D'Amato, 57, representante do Estado de Nova York e um dos mais radicais adversários do casal Clinton, age como um obcecado pelo caso Whitewater. Em sua nova posição, D'Amato será capaz de dar novo alento às investigações sobre as denúncias de ilegalidades financeiras no passado de Bill e Hillary Clinton.
Clinton lamentou ontem a derrota de alguns deputados e senadores que lhe foram leais durante seu governo, mas não citou nomes.
Disse ter "ouvido a voz dos eleitores", que vai refletir sobre ela e vai fazer as mudanças que julgar necessárias: "eles (os eleitores) é que mandam, todos nós trabalhamos para eles e recebemos a sua mensagem".
A Bolsa de Valores de Nova York teve dia agitado ontem: subiu muito de manhã, caiu abruptamete à tarde e fechou em pequena alta (1,01%).
O mercado está nervoso com a vitória dos republicanos. Em princípio, ela é boa notícia para empresários e financistas: os republicanos têm boas chances de aprovar cortes de impostos para empresas e de reduzir o controle do Estado sobre os negócios.
Mas, se a Presidência se enfraquecer muito, os investidores estrangeiros poderão conter suas aplicações nos EUA e a cotação internacional do dólar tende a cair, o que é ruim para o mercado financeiro e os empresários.

LEIA MAIS
sobre a eleição norte-americana na pág. 2-12

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