São Paulo, quarta-feira, 16 de novembro de 1994
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Covas quer restaurar finanças de SP

VINICIUS TORRES FREIRE
DA REPORTAGEM LOCAL

Um eventual governo Mário Covas não terá, ou pelo menos ainda não tem, nenhum "plano de cem dias", mas as palavras "urgência" e "prioridade absoluta" são empregadas por sua equipe para apenas uma questão: restaurar as finanças do Estado.
Para resolver o problema serão tomadas "medidas inovadoras": "reforma patrimonial" (venda de bens) para diminuir o débito do Estado com o Banespa.
Também faz parte do plano a securitização da dívida pública, para que se possa pagá-la em prazos mais dilatados (transformá-la em títulos lastreados em bens do Estado).
Não há mais combustível para tocar o barco do governo, que já começou a queimar a própria madeira, segundo a equipe covista.
O déficit estadual, de US$ 4,6 bilhões em 1993 (35,5%), teria sido de US$ 8 bilhões se não tivessem sido vendidos bens.
O financiamento do Estado com recursos próprios, de 3% do total em 1993 (era de 54% em 1987), caiu quase a zero este ano.
São Paulo hoje se financia quase que totalmente a base de déficit, mas tem cada vez mais dificuldades para rolar sua dívida.
Segundo avaliação do próprio Banco Central, o mercado financeiro está "retraído" em relação aos títulos estaduais (isto é, diminui o número de financiadores dispostos a aceitar juros pela dívida estadual, empurrada diariamente).
O maior buraco no casco do governo se chama Banespa. Ou melhor, o maior rombo do Banespa é o governo, que tomou 83% de todos os empréstimos do banco.
Segundo a equipe de finanças de Covas, o governo não tem hoje capacidade de saldar esses compromissos. Para piorar, há dezenas de bancos ajudando o Banespa a empurrar a dívida pública. Isto é, se o Banespa quebra, quebram também cerca de 30 bancos.
Mesmo sem esse cenário de catástrofe, a situação atual da dívida não permite que o Banespa financie a produção ou qualquer iniciativa estatal.
O outro banco estadual, a Nossa Caixa, deve passar por mudanças, segundo Covas ainda não definidas. A equipe de finanças chegou a propor sua fusão com o Banespa, ou mesmo sua privatização.
A médio prazo, um governo Covas pretende enfrentar a fuga de receitas através de outras medidas. A cobrança de impostos vai ser informatizada e potenciais grandes contribuintes terão fiscalização especial. A política de isenção de impostos também será revista.
Além de sanear as finanças, os tucanos prevêem parcerias, concessões e privatizações para capitalizar as empresas estatais, sem recursos para recuperar e ampliar a infraestrutura do Estado.
Energia elétrica, transporte e saneamento são os setores que devem inaugurar a prática e que estão gerando mais expectativas entre os empresários. Carlos Eduardo Lima Jorge, diretor-executivo da Associação Paulista dos Empresários de Obras Públicas diz que as concessões são a única maneira de enfrentar a falta de recursos para –os empreiteiros estariam dispostos a investir em energia, saneamento e estradas.
"Acho que ele (Covas) não tem convições pessoais nesse caminho (privatização), mas vem dando sinais positivos aos empresários. Não há saída. Privatizar não é mais uma questão de retórica, mas de caixa", diz Lima Jorge.
Sobre a dívida estadual com o setor (R$ 2,5 bilhões), que Covas pretende reavaliar, Lima Jorge diz que é improvável que haja superfaturamento nas obras contratadas depois de junho de 1993.
"A nova lei de licitação impede isso e há uma nova mentalidade no setor, pela transparência. De resto, nos últimos 18 meses a média de empresas por concorrência passou de 30 para 90. Isso fez os preços desabarem", diz Jorge.
O empresário Ruy Altenfelder acredita que, apesar da posição de Covas na questão da privatização dos serviços portuários, o tucano foi "convincente" ao falar na Fiesp sobre concessões e parcerias. Altenfelder espera que as primeiras iniciativas nesse sentido ocorram no setor da rodovias, saneamento e energia.

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