São Paulo, quarta-feira, 16 de novembro de 1994
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Os importados

Entre os argumentos que desde o início reforçam as esperanças no Plano Real está a abertura crescente da economia brasileira. A estabilização duradoura depende de condições adequadas de abastecimento e oferta de produtos. Poder importar mais para acomodar as pressões de consumo inerentes à queda da inflação torna-se portanto uma importante condição de sucesso.
Os dados mais recentes sobre o desempenho do comércio exterior brasileiro em parte confirmam esse argumento, mas não há como desviar-se do fato ingrato de que a economia brasileira continua excessivamente fechada.
É fato, por exemplo, que as importações atingiram em outubro um recorde de US$ 3,138 bilhões, um aumento de 16% frente a setembro, segundo dados oficiais. O acumulado até outubro de 1994 atinge cerca de US$ 24 bilhões, contra quase US$ 21 bilhões no ano passado. Entretanto, o exame detalhado dos dados revela que essas importações correspondem esmagadoramente a matérias-primas, insumos e bens de capital. É mínima a participação dos bens de consumo duráveis na pauta de importações da economia brasileira. Precisamente os que fazem falta no quadro atual de alta demanda.
Matérias-primas, produtos intermediários e bens de capital respondem por 71% das compras externas. Mesmo entre os produtos classificados genericamente como bens de capital predominam, com expansão de 50%, as importações de partes e peças para a indústria. Ou seja, predomina a manutenção do parque produtivo sobre a ampliação da capacidade produtiva.
Assim, se importar é bom para atender às necessidades do país e consolidar a estabilização, na prática se verifica que a composição das importações ainda é pouco animadora. Não há, ainda, um movimento claro de retomada dos investimentos, mas sim de racionalização e manutenção da capacidade produtiva existente. Ou seja, ainda é pouco o que se faz para aumentar a oferta futura de bens. E a oferta imediata, que poderia amparar-se em importações de bens de consumo duráveis, é irrelevante. Até setembro importou-se apenas US$ 1,2 bilhão de bens de consumo duráveis (5,7% do total importado). Descontando-se as importações de automóveis, a cifra reduz-se a insignificantes 1,4%. É ridículo.

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