São Paulo, quarta-feira, 16 de novembro de 1994
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Teoria dos estepes

CARLOS HEITOR CONY

RIO DE JANEIRO – Para minimizar os estragos que o ministro Ciro Gomes está fazendo por aí, leio que um político-empresário chamou-o de "estepe" –recurso emergencial para fazer o carro rodar até o primeiro borracheiro.
Meses atrás, eu próprio considerei Itamar Franco um estepe –que a gente trocaria o mais depressa possível. No caso dele, custou a aparecer o borracheiro, tivemos de rodar dois anos com o sobressalente. Já devemos ser gratos a ele pelo fato de não ter estourado no caminho, apesar das trepidações que provocou no volante.
Em linhas gerais, nos últimos anos de vida pública só tivemos uma sucessão de estepes, rodamos pouco com os pneus normais, de fábrica. Prevaleceram as emergências, a estrada da nossa política não é bem pavimentada, tem muitos buracos e não faltam moleques que derramam pregos pela pista, para ver no que vai dar.
Com FHC recém-saído da linha de montagem, zeríssimo quilômetro, bem calibrado e frisado, espera-se que o carro ganhe a confiança que os estepes não conseguem dar.
O diabo é que a estrada continua mal pavimentada e, revelado o novo ministério, a legião dos preteridos derrame pregos, tachas, cacos de vidro para furar os pneus e latas de óleo para provocar derrapagens, tornando as coisas mais difíceis. Ao primeiro furo, abre-se a mala e desencava-se um novo estepe. De estepe em estepe, todos serão usados e abusados.
Sem querer dar azar nem fazer mau agouro, lembro que há estepes e estepes.
Itamar até que não foi um desastre total quando substituiu um pneu zero quilômetro que saiu com defeito de fabricação. Fico pensando no Marco Maciel, cuja biografia coincide espantosamente com a de um excelente estepe. Ele está aí para o que der e vier.
Foi governador, ministro, chefe da Casa Civil, presidente da Câmara e pertenceu à Arena nos anos em que a Arena esteve no poder. É um estepe cinco estrelas, de grandíssimo coturno. Eu não gostaria de ser qualquer coisa sabendo que Marco Maciel é meu vice.

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