São Paulo, quarta-feira, 16 de novembro de 1994
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Fúria nascente

JOSIAS DE SOUZA

BRASÍLIA – Encerrado o segundo turno, Fernando Henrique Cardoso vai acelerar a composição de sua futura equipe. Pretende fechar até o final do mês o tricô político iniciado desde que voltou da República Tcheca.
Há, desde logo, um primeiro problema a ser administrado: a irritação dos parceiros de campanha, surpreendidos com o estilo excessivamente centralizador de FHC. E não se imagine que a chiadeira vem apenas do PFL e do PTB. Contaminou também parte do PSDB, partido do presidente eleito.
É certo que FHC não esperará pelos últimos dias de dezembro para anunciar os nomes de seus ministros e auxiliares. Consolida-se à sua volta a impressão de que o melhor talvez "vazar" os nomes, em conta-gotas.
Algo parecido ao que foi feito com Paulo Renato e Nelson Jobim, primeiros nomes a serem confirmados por FHC, ainda que sem especificar as pastas ou órgãos que controlarão.
O que perturba a turma que gravita à volta do governo em formação é a sensação de que FHC já tomou as principais decisões, sem consultar os aliados.
Algumas importantes decisões políticas, de fato, já foram tomadas. FHC mostra-se, por exemplo, convencido de que a pasta da Fazenda, hoje o principal endereço de Brasília depois do Planalto, deve ter seus poderes podados.
O presidente eleito diz, baseado na própria experiência, que o titular da Fazenda tem hoje excessivos poderes. A exemplo de Collor no início de sua gestão, FHC quer na Fazenda alguém que não lhe faça sombra.
Por isso descartou, há muito, a alternativa José Serra. Pelo mesmo motivo, não chegou a considerar a hipótese de manter Ciro Gomes no posto. Sua Zélia deve ser mesmo Clóvis Carvalho, atual secretário-executivo da Fazenda.
Outra sólida convicção de FHC é a de que a estrutura da Presidência da República precisa ser reforçada.
Do ponto de vista dos aliados, FHC só tratou, até aqui, dos próprios interesses. Se não ampliar o diálogo, estará muito próximo de ser considerado como um potencial traidor.

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