São Paulo, quinta-feira, 17 de novembro de 1994
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Lucro será de US$ 1 mi, diz presidente

DA REPORTAGEM LOCAL

O presidente da Bienal, Edemar Cid Ferreira, acha que os problemas de organização do evento –apontados pelo público em pesquisa feita pelo Datafolha (leia nesta página)– são naturais. "Bienal é isso mesmo", diz.
Para ele, a 22ª Bienal não é só uma exposição importante pelo que expõe e pela relevância no cenário educacional e cultural. Ferreira acredita que a estrutura de financiamento do evento decreta novos tempos na cultura brasileira: "Acabou o mecenato, a idéia do 'me dá um dinheiro aí' que predominava no esquema de patrocínio nacional". Segundo ele, o lucro dela será de US$ 1 milhão.
Dono do Banco Santos e colecionador de arte, Ferreira, que preside a Bienal até maio (diz não ter decidido se se candidata à reeleição), conversou com a Folha na semana passada.

Folha - Salas atrasaram, como as de Molder, Trockel e Tunga. Outra nem sequer abriu, a de Cabrita Reis. Houve quebras de obras, como a de Nuno Ramos. Em algumas portas foram colocadas fitas para impedir a circulação por causa das crianças. A que se devem todos esses problemas de organização?
Edemar Cid Ferreira - Em primeiro lugar, é natural que uma Bienal inaugure sem estar completamente pronta, porque é muita coisa, existem problemas de alfândega etc. Bienal é isso mesmo.
Em segundo, nós tivemos muito pouco tempo para montá-la por causa da Bienal do Livro (realizada de 17 a 28 de agosto deste ano), que já estava programada quando assumimos a direção da Fundação Bienal.
Quanto a essas fitas, é o que você disse: foi por causa das crianças. A obra de Helen Chadwick, por exemplo (uma fonte de chocolate), é tóxica; pusemos um cartaz avisando, mas mesmo assim crianças e até adultos colocavam o dedo. Depois das 16h, quando as visitas de escolas terminam, abrimos essas salas.
Folha - Como está a saúde financeira da Bienal?
Ferreira - Muito bem. Sairemos da 22ª com lucro.
Folha - Como se compõe o financiamento da Bienal e de onde vem o lucro?
Ferreira - A Bienal deverá custar, ao todo, por volta de US$ 4,5 milhões. Recebemos US$ 600 mil da Prefeitura de São Paulo e US$ 2,7 milhões dos patrocinadores. Se o público pagante somar, no final, os 300 mil esperados, teremos aí cerca de US$ 1 milhão, fazendo uma média de R$ 3 por ingresso (adultos pagam R$ 4 e menores de 12 anos, R$ 2).
Nesses três itens já está quase bancada a Bienal. Além disso, temos um caixa de pouco mais de US$ 500 mil, resultante da "Bienal Brasil Século 20" (realizada em abril e maio deste ano), e temos a venda dos livros. Tiramos 5.000 exemplares de cada um dos dois catálogos. Como o preço unitário é de R$ 120, deveremos ter, no mínimo, mais US$ 1 milhão (supondo a venda de cerca de 7.000 exemplares).
Por enquanto vendemos pouco mais de 2.000 livros, mas eles estarão à venda permanentemente, seja nas versões da Bienal que serão feitas em outras cidades, seja na livraria que criaremos aqui no espaço museológico do pavilhão.
A grosso modo, posso dizer que o valor da venda dos catálogos, esse US$ 1 milhão, será o lucro da 22ª Bienal.
Acho importante notar que a Bienal mudou a maneira de conseguir patrocínio cultural no país, que antes era feito à base do "me dá um dinheiro aí". Vendendo cada sala especial para um patrocinador exclusivo, demos a ele um retorno muito mais palpável, com anúncios em meios de comunicação e o abatimento de impostos. Tratamos a Bienal como empresa.
Folha - O número de visitantes pagantes da Bienal do dia da abertura (12 de outubro) até o dia 7 deste mês foi de 103 mil. Se a Bienal for até o dia 11 de dezembro, deverá ter um público total de no máximo 250 mil pagantes, além de quase 200 mil crianças, seguindo a projeção. O sr. acha um bom resultado?
Ferreira - O resultado deve ser maior do que esse, porque a frequência tende a aumentar no final do evento. Acredito em 300 mil pagantes no mínimo e acho que o número de crianças também será maior. Ou seja, um total de mais de 500 mil visitantes. Me parece excelente, de uma importância educativa imprescindível.
Folha - O sr. não acha que o modelo da Bienal, que o sr. chamou de "ONU da arte", em que cada país escolhe seus representantes, é problemático?
Ferreira - Acho que é, sim. Mas também não acho certo fazer como na Documenta de Kassel, em que um só curador escolhe quem trará para o evento. Além de ser mais caro, é antidemocrático. Acho que talvez seja o caso de buscar o meio-termo.
Além das representações internacionais, acho importante ter maior número de salas especiais de contemporâneos, escolhidos por uma curadoria, gente que está se destacando, influenciando os outros, para mostrar o que de melhor está sendo feito pelo mundo.

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