São Paulo, quinta-feira, 17 de novembro de 1994
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Febre da instalação chega a SP

DA REPORTAGEM LOCAL

Quase metade dos artistas brasileiros apresenta instalações na Bienal deste ano, embora o termo seja repudiado por alguns, como Fernanda Gomes.
A artista prefere dizer que sua sala é composta por 69 objetos independentes espalhados pelas paredes em vez de vê-los em conjunto, como uma única obra.
A febre das instalações não é exclusividade brasileira. Tomou impulso no final dos anos 80, acabando por tornar-se quase sinônimo de artes plásticas nesta década. Graças às instalações (a partir da tradição das obras conceituais modernas e contemporâneas), a arte hoje pode ser definida simplesmente como "materialização de uma idéia" e não mais o domínio de uma técnica ou de um talento específico para pintura, escultura etc., como numa perspectiva mais clássica.
"Uso materiais e técnicas dependendo do que quero materializar. Neste caso, não queria construir uma narrativa. No espaço que criei para a Bienal, as pessoas são a performance. Elas criam suas próprias narrativas quando entram no espaço", diz Waleska Soares, 37, cuja sala na Bienal tem o chão coberto por 16 mil rosas e dois trapézios pendurados por fios de cabelo no teto.
Ao mesmo tempo em que abre para novas possibilidades criativas, a instalação permite o vale-tudo e que qualquer um seja artista, como propunha o alemão Beuys. A qualidade das obras não se mede, portanto, por um apuro técnico nem pela eficiência da materialização mas pelo que ela provoca no espectador.
Seria difícil pensar em algo mais subjetivo. Por exemplo, no caso dos objetos residuais de Fernanda Gomes (restos de coisas usadas pela artista, pontas de cigarro, caixas de catupiry etc), o efeito é inversamente proporcional à sua insignificância. Há algo perturbador nesses restos espalhados por paredes e cantos da sala. Para outros, como Nuno Ramos, cujo trabalho se faz pelo acúmulo, por uma multiplicidade de sentidos simultâneos, a instalação se transforma no meio mais apropriado e eficiente.

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