São Paulo, quinta-feira, 17 de novembro de 1994
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Soto mostra "Penetrável"

DA REPORTAGEM LOCAL

Tem importância estratégica a presença de uma obra do artista venezuelano Jesús Rafael Soto na Bienal. Soto, 71, é criador de "Penetráveis" –obras por dentro das quais o público é levado a passear, tocando-as e ouvindo os sons que seu contato com elas produz.
O "Penetrável" de Soto que a Bienal mostra tem diálogo direto com as obras de Hélio Oiticica, Lygia Clark e Mira Schendel.
Como os trabalhos dos brasileiros, eles exigem do espectador uma participação, retiram-no de uma suposta passividade por meio de estímulos sensoriais.
A trajetória de Soto é semelhante à de Oiticica, Mira e Lygia. Começa como pintor construtivista, depois acrescenta formas tridimensionais à tela e, em seguida, rompe com ela e passa a criar ambientes.
Mas há diferenças entre o estilo de Soto e os do trio brasileiro. Seu apelo aos sentidos não se dá pelo uso de adendos ao corpo do observador, como em Lygia (as "máscaras sensoriais"). O que importa é a atração que o ambiente exerce por si só, e os de Soto têm preocupação com efeitos ópticos –embora seu penetrável na Bienal seja dos menos bonitos.
Há, assim, uma distinção importante. Soto pede ao público uma participação mais autônoma, mais suave, e a própria existência de sons indica a exigência de uma atenção silenciosa.
Além disso, enquanto Oiticica parte da cultura popular, Soto usa nos ambientes um repertório ainda claramente conectado à arte moderna –ao construtivismo, no caso.
Seu "Penetrável" tem mais proximidade com a instalação de Mira, "Ondas Paradas de Probabilidade" –situada na mesma região do prédio, dois andares acima da de Soto.
Mas a instalação de Mira pede um olhar táctil, pela delicadeza dos fios que pendem dos tetos. A de Soto não é tão delicada; o público, antes, é compelido a atravessar os fios com o corpo.
Essa visualidade limpa e estruturada não significa, por outro lado, que não haja o caráter lúdico nos ambientes. Mas as bases de Soto são científicas.
Partindo de leis físicas, ele estuda, por exemplo, como a impressão de movimento parece criar volumes em sucessões de linhas.

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