São Paulo, quinta-feira, 17 de novembro de 1994
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Surfe na cabeça

CARLOS SARLI

Um garoto de Itamambuca, Ubatuba, não se cabia de felicidade com a prancha que ganhou em sorteio, sábado, no Sea Club Final Heat, última etapa do Circuito Brasileiro de Surfe Profissional. Acostumado a surfar com os tocos que ganhava de surfistas filantrópicos, a primeira prancha parafina zero km que ganhou vai ser um impulso no seu surfe.
Neste mesmo dia, o até então líder do ranking e favorito ao título, Victor Ribas, perdeu de cara: "A pressão me deixou nervoso. Mas valeu, foi o melhor ano de minha vida", disse o cabo-friense, que tem vaga garantida na 1ª divisão do surfe mundial (WCT) em 95.
Nas quartas-de-final, domingo, 16 surfistas corriam atrás da grana e dos pontos para o Brasileiro e WQS e três tinham chances de conquistar o título nacional.
Na 1ª bateria, o paulista radicado no Paraná, Peterson Rosa, 20, poderia decidir a seu favor. Mas ficou em 4º lugar e passou a depender de outros resultados.
Inconformado, saiu da água, procurou a lixeira mais próxima e detonou em pedaços sua prancha. Molequice, ímpeto ou marketing, muitos dos surfistas que assistiram a cena devem ter lamentado ele simplesmente não ter deixado a prancha na lixeira para ser aproveitada. Ao menos teve senso ecológico e não deixou os pedaços pela praia. Após a ceninha, Peterson, chorando, acompanhou a bateria que iria decidir sua colocação final no ranking.
Para sua felicidade, Renan Rocha e Renatinho Wanderley andaram mais que Ricardo Tatui e Joca Jr. e decidiram o título a seu favor. Em seguida, mais calmo, o mais jovem campeão brasileiro lembrou da "véia" –sua mãe–, da namorada que não pôde acompanhá-lo e dedicou o título a sua avó.
O Sea Club encerrou a perna brasileira do Circuito Mundial. Competidores, patrocinadores, organizadores e público ficaram satisfeitos, deixando a promessa de uma fase ainda melhor no ano que vem. É possível até que tenhamos dois campeonatos pelo WCT.
Binho Nunes, 19, foi o grande vencedor da etapa. Finalizou sua participação com um aéreo já na contagem regressiva da final. Matou a pau. Com o resultado, saltou do 53º para o 33º posto no WQS, o que lhe dá chances de integrar a elite do surfe mundial em 95.
A tal novíssima geração ratificou sua presença. Além do campeão da etapa e do campeão brasileiro, Renatinho Wanderley, 20, chegou à final. Essa galera tem muito surfe no pé.

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