São Paulo, quinta-feira, 17 de novembro de 1994
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Ser rico é ser justo

CLÓVIS ROSSI

SÃO PAULO – Ficou muito difícil, nos últimos anos de esmagadora hegemonia do discurso neoliberal, fazer-se ouvir, seriamente, a respeito de distribuição de renda. Virou coisa de chato, de demagogo ou de petista ou, pior ainda, de petista chato.
Pois agora vem em socorro dos que ainda ousam insistir no tema justamente a revista "The Economist", que não chega a ser propriamente marxista.
Na edição de 5/11, a revista publica um gráfico cujo título é eloquente: "Igualdade é bom para o crescimento?". A resposta vai surpreender muitos neoliberais e muitos sociais-democratas de araque: é bom, sim. Aliás, é ótimo.
Entre os ricos, os países mais igualitários são Japão, Suécia, Bélgica, Alemanha, Finlândia, Holanda, Itália e Noruega. Neles, a porcentagem da riqueza abocanhada pelos 20% mais ricos é de quatro a seis vezes maior do que a fatia que cabe aos 20% mais pobres. Já nos Estados Unidos, que só perde para a Austrália entre os ricos, em matéria de iniquidade, os 20% mais ricos ficam com 11 vezes a porcentagem do bolo que cabe aos 20% mais pobres.
Muito bem. Quais foram os países em que a produtividade do trabalho mais cresceu por ano, entre 1979 e 1990, período suficientemente longo para afastar qualquer suspeita de eventuais fenômenos sazonais? Justamente Finlândia, em primeiro lugar, Japão, em segundo, e mais abaixo Bélgica e Dinamarca.
Ou seja, a produtividade cresceu mais exatamente nos países que ocupam os primeiros postos no campeonato da igualdade, ao menos entre os ricos.
Onde a produtividade cresceu menos? Bingo: EUA e Austrália, campeões da iniquidade.
Detalhe: no Brasil, a diferença de renda entre os 20% mais ricos e os 20% mais pobres é de 32 vezes, vexame mundial.
Quando esse pessoal que enche a boca para falar de modernidade conseguir atacar as duas pontas da equação (produtividade, sim, mas menor desnível social também), aí sim o Brasil vai conseguir se aproximar do Primeiro Mundo. Pela porta da frente e não apenas pela porta das butiques de importados.

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