São Paulo, quinta-feira, 17 de novembro de 1994
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Varões assinalados

CARLOS HEITOR CONY

RIO DE JANEIRO – Não deu para entender a prontidão do Exército, aqui no Rio, no dia da eleição. Tirante os casos miúdos, alguns bêbados, um ou outro cabo eleitoral mais exaltado, panfletagem circunstancial na boca-de-urna, as eleições correriam normais, tal como no primeiro turno. A fraude ficou escancarada nas apurações.
Não acredito que um carro militar, soldados embalados e um oficial com telefone celular na mão possam desmanchar o esquema de corrupção "durante a eleição". Ele teria de ser desmanchado antes.
O acordo que previu a colaboração das Forças Armadas com o governo do Estado não incluía uma fiscalização sobre a Justiça Eleitoral. Por azar, o episódio coincidiu com o clímax da violência gerada pelo tráfico de drogas –e foi para combater esse inimigo que a sociedade recorreu às Forças Armadas.
Diga-se, a bem da verdade, que a medida teve o mérito de intimidar o crime organizado. Embora não haja números oficiais a respeito, percebe-se que, ao menos nesse primeiro momento, houve retração da violência.
A questão da fraude eleitoral pertence a outro departamento, é outra história e, sobretudo, são outros quinhentos. E bota quinhentos nisso! É um lance da corrupção generalizada que tanto explode no Planalto como na Comissão do Orçamento, nas concorrências públicas e –de dois em dois anos– nas apurações de cada eleição.
Acredito que em todos os Estados, nuns mais, noutros menos, haja uma excelente taxa de corrupção, "caro autem infirma" diz o Evangelho, a carne é fraca.
No Rio, há políticos que sempre saem vitoriosos, às vezes com exagerado número de votos, e não se encontra nas ruas, nos caminhos, nas retretas e velórios (crédito para Nelson Rodrigues) um único e escasso eleitor do candidato.
Conhecemos de vista eleitores de Amaral Netto, de Jair Bolsonaro, de Wilson Leite Passos, de Miro Teixeira e até de derrotados crônicos. Mas há meia-dúzia de varões que sabidamente se elegem sem eleitorado. De qualquer forma, seria caso para cadeia e não para tanque de Exército.

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