São Paulo, sexta-feira, 18 de novembro de 1994
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Ciro prevê crise com IPC-r próximo dos 3% este mês

CLÓVIS ROSSI
DA REPORTAGEM LOCAL

O IPC-r de novemro estará perto de 3%, bem acima do 1.86% de outubro, e dará pretexto para uma "nova batalha" contra o ministro da Fazenda, Ciro Gomes.
O aviso é do próprio Ciro, convencido de que ganhou o que chama de "primeira batalha", travada essencialmente, na sua visão, contra o setor exportador.
O minisro já preparou a sua munição para a segunda batalha. Ele acha que o IPC-r de novembro apenas capta o que a Fipe já havia apontado no mês passado (3,17%).
O problema é que o IPC-r colhe seus números entre os dias 15 de um mês e 15 do mês seguinte, ao passo que o IPC fechado da Fipe mede os preços de 1º a 30.
Logo, os 3,17% da Fipe de outubro incluem os 15 últimos dias do mês, que vão entrar só no IPC-r de novembro.
Com cerca de 3% em novembro, os reajustes salariais das categorias com data-base em dezemro terão reajuste de pelo menos 19%, aproximadamente, o total acumulado no IPC-r, desde a introdução do real, em julho.
É óbvio que esse número desatará novas pressões por alguma reindexação, exatamene o oposto do que quer fazer a atual equipe econômica e que será mantida, no essencial, no próximo governo.
O problema da próxima "batalha" é que a primeira, ao contrário do que supõe Ciro, não foi vencida. Mais: não se trata de uma divergência em torno do estilo do ministro mas de diferentes visões do que deve ser a política econômica, neste e no próximo governo.
Na reunião de anteontem da equipe econômica com um grupo de pesos pesados do empresariado, Gustavo Franco, um dos principais ideólogos do Real, os horrorizou.
Ele defendeu um "déficit controlado" no balanço de pagamentos, que fixou em cerca de 3% do Produto Interno Bruto (PIB, medida da renda nacional).
Disse que esse buraco seria coberto com idêntico afluxo de capital externo e chegou a informar que, se o governo não estivesse controlando a entrada de recursos, o dólar cairia a R$ 0,50.
Até aí, a exposição foi considerada "realista" pelos empresários, ainda que "preocupante", dado que o dólar barato facilita importações e dificulta exportações.
Mas o trecho seguinte é que alarmou o empresariado. Franco disse que uma moeda forte tem consequências.
E emendou: "Da mesma forma que o Japão, que expotou sua indústria têxtil para a Coréia quando sua moeda ficou forte e esta para a China, quando sua própria moeda se fortaleceu, o Brasil talvez também tenha que exportar alguma indústria".
Estava na mesa o fulcro da divergência: o empresariado se diz disposto a apoiar a estabilização da economia, diz saber que o câmbio sobrevalorizado é peça vital da estabilização, mas avisa que o custo pode ser excessivo.
O problema é que o empresariado admite, conforme a Folha apurou ontem junto a um dos interlocutores do ministro, da equipe e do próprio Fernando Henrique Cardoso, que "a alternativa não está clara, precisa ser construída".
Consequência: as duas partes marcaram novas conversações, exatamente para tentar chegar a algum tipo de entendimento que permita, se não eliminar os custos da chamada âncora cambial (dólar baixo), pelo menos atenuá-los.
Tanto de Ciro como de empresários presentes, a Folha ouviu ontem que se está na fase de "explicitar as divergências", mais do que na etapa de construir acordos.

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