São Paulo, sexta-feira, 18 de novembro de 1994
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Proibir arma de verdade, que é bom, necas

BARBARA GANCIA
COLUNISTA DA FOLHA

A cada dia que passa, a população de São Paulo tem novos bons motivos para jubilar-se da competência de seus digníssimos representantes na Câmara Municipal.
Tome, por exemplo, a lei sancionada na última segunda-feira pelo prefeito Paulo Maluf.
A oportuna medida criada pelo edil vem prestar um enorme serviço não só à população mas também à uma minoria sempre desprezada, os bandidos.
Eu explico: a nova lei resgata o direito do cidadão ser corretamente assaltado e repõe a dignidade de uma categoria sofrida, que dá duro para se estabelecer em uma metrópole competitiva –uma vez que é flagrante falta de profissionalismo sair por aí assaltando as pessoas com armas de plástico "made in Taiwan".
Onde estamos? Não fica bem, o leitor há de convir, usar brinquedos como ferramenta de trabalho. Afinal, desde os tempos em que Billy the Kid incutia respeito com seu revólver Colt, a etiqueta pede que quem pratica um assalto use armas de fogo –e quem é assaltado quer sê-lo de pleno direito. Afinal, trata-se de trabalho sério ou palhaçada?
A lei do vereador Conte Lopes, interplanetariamente conhecido como um pacifista de renome, coloca um ponto final nessa trapaça promovida pelos dilentantes da gatunagem, que matam de mentirinha.
Menos mal que acabou essa molecagem de comprar imitações baratas no coreano da esquina. Quem quiser praticar um assalto "comme il faut" que vá a um shopping center qualquer, entre na Bayard e compre um três oitão da pesada. Sai um pouco mais caro, mas compensa.
Agora, será que alguém pode me explicar por que o mesmo esforço dispensado pelos sensatos homens públicos para proibir a venda de armas de brinquedo não foi usado para proibir a venda de armas que matam de verdade?
Pois é isso mesmo e estão aí as autoridades que não me deixam mentir: assaltar com arma de brinquedo não pode. Assaltar com arma de verdade é perfeitamente viável.

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