São Paulo, sábado, 19 de novembro de 1994
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Cúpula das Américas vai discutir comércio

Latino-americanos ameaçaram boicotar a reunião

CLÓVIS ROSSI
DA REPORTAGEM LOCAL

Uma minirrebelião dos principais países latino-americanos conseguiu devolver o tema comércio à agenda da chamada Cúpula das Américas, convocada pelo presidente norte-americano Bill Clinton para entre 9 e 11 de dezembro.
O governo norte-americano havia retirado o tema da agenda, em parte porque a derrota eleitoral de Clinton, na semana passada, amarrou as mãos do presidente em matéria de negociações comerciais mais aprofundadas.
Mas os países da América Latina, cujo maior interesse é ampliar as relações comerciais com a maior potência do planeta, chegaram até a insinuar um boicote à reunião de cúpula, se o comércio não reaparecesse na agenda.
Reapareceu, mas de uma forma diluída. O esboço de declaração que vem sendo negociado prevê a óbvia reafirmação da importância de intensificar as relações comerciais entre os países americanos.
Mas nada contém em matéria de compromissos formais, em especial de natureza jurídica, que dão solidez a declarações de intenção.
Por isso mesmo, recente reunião dos embaixadores de quatro países latino-americanos em Miami (Argentina, Brasil, Equador e México) terminou com o alerta de que ninguém deve ter expectativas exageradas em torno dos resultados da cúpula de Miami.
É verdade que esse tipo de encontro, ainda mais com tantos participantes (todos os países americanos, exceto Cuba), dificilmente rende compromissos concretos.
Mas esperava-se, ao menos, que funcionasse como retomada simbólica da "Iniciativa para as Américas", lançada por George Bush, antecessor de Clinton.
A "Iniciativa" previa, a longo prazo, a constituição de um mercado comum "do Alasca à Terra do Fogo", os pontos extremos do continente americano.
Essa perspectiva está afastada e a expectativa em torno da cúpula pode ficar ainda mais aguada se Clinton não conseguir do Congresso, até a abertura do encontro, a aprovação do acordo gerado pela Rodada Uruguai do Gatt (Acordo Geral de Tarifas e Comércio).
Tal acordo, o mais significativo já obtido, amplia enormemente as perspectivas para o comércio global, mas depende ainda de ratificação pelos parlamentos de inúmeros países, entre eles os EUA.
Para obter do Congresso a ratificação, Clinton teve de abrir mão do procedimento batizado de "fast track" (literalmente, via rápida), pelo qual o Legislativo delega ao Executivo a competência para negociar acordos comerciais.
Tudo isso retira parte da substância prevista para a reunião de Miami, que corre o risco de se transformar em mera "photo opportunity" ("oportunidade de fotos") dos mandatários convidados.
O Itamaraty trabalhava, até ontem, com a hipótese de que só o presidente Itamar Franco vá à reunião, embora Itamar já tenha convidado Fernando Henrique Cardoso para substituí-lo.

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