São Paulo, sábado, 19 de novembro de 1994
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Psicologia no morro

NELSON DE SÁ
DA REPORTAGEM LOCAL

– A guerra começou.
Não precisou muito, como esperado, para o Aqui Agora sair falando em guerra, acrescentando depois que agora "é para valer". Soldados cercaram e subiram morros, uma dezena deles, de acordo com as redes, mas nada indica que tenha sido algo além de "ação psicológica".
– Mais uma etapa da guerra psicológica.
A avaliação da CBN surge mais correta. Tudo bem que os soldados do Exército estavam tensos, como insistiu o Aqui Agora, todos olhando sem parar para a favela, para os sobrados, de metralhadora preparada; mas não era ação o que eles procuravam. Andavam, circulavam.
Nos demais telejornais, da mesma maneira, foi insistentemente mencionado o "aspecto psicológico". A expressão, depois de lançada pelos militares, há uma semana, tornou-se lugar-comum. Ontem, mais do que antes, evidenciou-se a sua ligação com a própria televisão.
Como na espetacular invasão da Somália pelos fuzileiros navais americanos, cercados pela CNN, os soldados subiram os morros cercados por fotógrafos e cinegrafistas. Numa passagem da cobertura, no morro d. Marta, era possível ver, para cada soldado, um jornalista.
Ninguém quer
Luiz Henrique, presidente do PMDB, aparece na televisão e diz, candidamente, que o partido não quer cargos para apoiar o governo.
Paulo Maluf, o maior líder do PPR, aparece no rádio e diz que vai apoiar Fernando Henrique Cardoso, mas também não quer cargo.
Pimenta da Veiga, presidente do PSDB, na televisão, diz que os acordos para apoio ao governo não prevêem distribuição de cargos:
– Em nenhuma hipótese.
A eles, seria possível acrescentar Marco Maciel, do PFL, que andou falando a mesma coisa. Da boca para fora, o Brasil todo mudou.
Aposentadoria
Luiz Fleury já deixa o governo paulista com uma imagem patética, e parece fazer o que pode para piorar as coisas para si mesmo.
Aposentar-se aos 45 anos, para receber US$ 8 mil mensais, é pedir para que o esqueçam de uma vez por todas.
Ainda mais quando diz que, fosse só por ele, não aceitaria a aposentadoria –mas tem que pensar no "patrimônio da família".

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