São Paulo, sábado, 19 de novembro de 1994
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Diretor-geral da PF diz que é uma 'idiotice' subir os morros

DANIELA PINHEIRO

DANIELA PINHEIRO ; CLAUDIO JULIO TOGNOLLI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

CLAUDIO JULIO TOGNOLLI
O diretor-geral da Polícia Federal, Wilson Romão, considera uma "idiotice" subir os morros do Rio.
"Ninguém vai subir morro para ir atrás de pé de chinelo. Sabemos que os 'grandes' do tráfico estão nos bairros nobres gastando dinheiro", disse ontem à Folha.
Romão condicionou uma eventual operação policial nos morros à necessidade de reforçar o grupo de policiais do Exército.
Dossiê
Os principais líderes do tráfico de drogas do Rio de Janeiro não estão baseados nos 11 morros que o Exército pretende invadir.
A informação consta de dossiê elaborado pelo Serviço de Inteligência da Polícia Federal, que foi repassado nessa semana ao Comando de Operações Táticas da PF –um grupo de 30 homens.
O documento elenca os nomes dos dez "chefões" cariocas do tráfico internacional de cocaína. Eles teriam construído suas fortunas, a princípio, repassando no Rio carregamentos de cocaína provenientes dos cartéis de Cali e Medelin, na Colômbia. Esses dois grupos são considerados as maiores organizações mundiais de narcotráfico.
"Só posso revelar que três desses chefões têm o endereço bem conhecido pela Polícia Federal. Eles não moram no morro. Moram na avenida Vieira Souto, na Barra da Tijuca e na avenida Nossa Senhora de Copacabana" disse o agente especial Francisco Garisto.
Nos últimos dez anos, Garisto participou das cem maiores operações de combate ao narcotráfico, sobretudo no Rio. Hoje, ele é porta-voz da Federação Nacional dos Policiais Federais.
Afirma Garisto que a PF sabe os nomes dos dos estrangeiros que, já no Brasil, estariam se compondo com os líderes do tráfico carioca.
"Hoje não temos mais cartéis de Cali ou Medelin no Rio. Isso é coisa do passado. Temos um verdadeiro 'cartel carioca' feito de muitos italianos, muita gente da máfia italiana", revela Garisto.
Os policiais federais criticam as ações do Exército por considerar que os militares estariam atuando isoladamente, e sem dispor de dados confidenciais que a PF vem coletando há anos.
Segundo a Federação Nacional dos Policiais Federais, o Exército está trabalhando sem trocar informações com a PF e as polícias civil e militar do Rio de Janeiro. "A tomada do morro vai ser um desastre, uma operação totalmente descoordenada", diz Garisto.
Patrulha
Na sexta-feira, 150 agentes federais embarcam para o Rio.
Eles vão participar de operações de patrulha em conjunto com o Exército, a Polícia Rodoviária e os fuzileiros navais.

Texto Anterior: OAB teme violação de direitos
Próximo Texto: Agentes federais podem parar
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.