São Paulo, sábado, 19 de novembro de 1994
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Entrevista com Patrick Dupond, diretor artístico do balé da ópera de Paris

ANA FRANCISCA PONZIO

ESPECIAL PARA A FOLHA

Patrick Dupond, 35, substituiu Rudolf Nureyev na direção artística do Ballet da Ópera de Paris, que se apresenta em São Paulo na próxima semana.
Bailarino prodígio, vai participar de três das quatros coreografias do programa único desta temporada. Em entrevista à Folha, por telefone, disse que gostaria de repetir o sucesso de sua última apresentação em São Paulo, em 1991, quando foi ovacionado ao dançar "Salomé", feita por Maurice Béjart especialmente para ele.
"Em (Parade) faço um papel curto. Talvez em (Le Fils Prodigue), de Balanchine, e (Le Rendez-Vous), de Roland Petit, eu possa transmitir o mesmo nível de emoção de (Salomé)", comenta Dupond, que também é modelo e ator de cinema.
Folha – Você dirige o Balé da Ópera de Paris desde 1990. Quais as transformações mais importantes que realizou desde então?
Patrick Dupond – Nossa grande conquista foi a independência no Palais Garnier (leia-se Teatro da Ópera de Paris), que tornou-se nossa residência exclusiva.
Com a transferência dos espetáculos de ópera para o Teatro da Ópera da Bastilha, o Palais Garnier, hoje, está consagrado inteiramente à dança.
Outra vitória foi poder convidar o coreógrafo norte-americano Jerome Robbins (autor de "West Side Story") para um programa completo, além do sueco Mats Ek, que montou para nós sua versão contemporânea de "Giselle" (num cenário surreal, com bailarinas carecas).
Talvez a companhia nunca tenha estado tão bela quanto agora.
Folha – O repertório do Balé da Ópera de Paris é eclético a ponto de reunir, numa mesma temporada, a "Giselle" moderna de Mats Ek e a versão clássica original, criada em 1841. Como você escolhe os programas?
Dupond – Escolho em função da disponibilidade dos bailarinos e da missão da Ópera de Paris, que é encenar tanto os grandes balés tradicionais como também as obras-primas deste século.
Folha – Como você define o Balé da Ópera de Paris hoje?
Dupond –É simplesmente a melhor companhia do mundo.
Folha – Você pode comentar o programa que o Balé da Ópera de Paris apresentará no Brasil?
Dupond – Como está se realizando uma Bienal de Artes em São Paulo, escolhemos um programa que mostra a relação de artistas plásticos proeminentes com a dança.
É um programa histórico e muito refinado, com cenários de pintores como Picasso, Georges Rouault e o fotógrafo Brassai.
Folha – Qual sua opinião sobre o balé "Parade", incluído no programa?
Dupond – "Parade" é muito singular, porque é um balé típico de uma certa época, que vai dos anos 20 aos 30.
Representa um período maravilhoso, quando Picasso, o coreógrafo Léonide Massine, o escritor Jean Cocteau e o compositor Erik Satie puderam trabalhar juntos e produzir um espetáculo completamente contra a corrente de todos os balés tradicionais feitos até então. "Parade" é quase uma peça de museu.
Folha – Como o Balé da Ópera de Paris se mantém moderno sem abandonar as tradições?
Dupond – O Balé da Ópera de Paris foi criado em 1661 e desde então mantém suas propostas básicas, que são: manter viva a tradição mas também participar do desenvolvimento da criação.
Estamos empenhados em preservar a técnica clássica mais pura e, ao mesmo tempo, interpretar as mais diversas técnicas contemporâneas.
Balés como "La Syphide" ou "Lago dos Cisnes" são tão importantes quanto as criações de Maurice Béjart, Willian Forsythe, Merce Cunningham ou Alvin Alley. É essencial garantir a continuidade dos clássicos.
O Balé da Ópera de Paris estréia dia 22 no Teatro Municipal de São Paulo. Mas, os espetáculos dos dias 22, 23 e 24 foram entregues aos patrocinadores. Nestes dias não há ingressos disponíveis para o público, que terá acesso às apresentações dos dias 26 (21 h) e 27 (17h e 21h30).
Preços dos ingressos: R$ 7,00 a R$ 70,00 (à venda na bilheteria do teatro, telefone 222.8698 ou através do Fun by Phone, 816.0829).
Dia 25, a partir das 15 horas, o elenco realiza um workshop/debate no Teatro Sesc Anchieta. Inscrições: Rua Dr. Vila Nova, 245, 8º andar, fone 256.2322.
fim

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