São Paulo, sábado, 19 de novembro de 1994
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Veja como é uma sessão com objetos

DO ENVIADO ESPECIAL

O terapeuta Lula Vanderlei sempre teve a mania de escrever sobre os principais casos que tratou com os objetos relacionais de Lygia Clark.
Era uma maneira de organizar uma experiência que é limite para a arte e para a psiquiatria e sobre a qual não há teoria, segundo o psicanalista Jurandir Freire Costa.
No próximo ano esses relatos vão virar livro. Será lançado pela editora Francisco Alves. Leia a seguir um trecho, no qual Lula Vanderlei descreve uma sessão com os objetos relacionais:

A pessoa deita-se em um grande objeto, um colchão feito de plástico transparente e recheado de bolinhas de isopor. A superfície desse colchão não oferece resistência e tende a abrir espaços vazios em seu interior, facilitando a acomodação perfeita do corpo. Cubro seus olhos, assim como também coloco em seus ouvidos conchas do mar, para proporcionar uma sensação de interioridade. Massageio suavemente sua cabeça. Junto suas articulações com doçura, mas com firmeza, o que leva muitas pessoas a vivenciar uma sensação de unidade.
Toco o corpo da pessoa com os objetos relacionais, em uma espécie de massagem, para depois deixar os objetos sobre o corpo, envolvendo-o. Essa etapa em que os objetos permanecem estáticos sobre o corpo é a mais longa (cerca de 40 minutos). É quando o objeto relacional torna-se mais forte em sua linguagem, sem a presença do toque do mediador terapeuta, que apenas espera.
Durante essa espera, coloco em suas mãos uma pedrinha redonda envolta por uma rede. Esta pedra é o que chamamos de "prova da realidade". Sendo ela totalmente diferente dos demais objetos, pois é compacta, possuindo contornos definidos etc, o gesto de segurá-la vai se contrapor a todo o processo, ao mesmo tempo que a ele vai pertencer.
Depois, retiro vagarosa e suavemente os objetos de cima do corpo. Também massageio o corpo com outro objeto, uma espécie de cobertor feito de pano levíssimo recheado de bolinhas de isopor. Forneço à pessoa um objeto de ar (saco plástico cheio de ar) para que ela, já sentada e de olhos abertos, toque seu próprio corpo, em um gesto de transição antes de voltar à atitude de verbalização. Converso então com o cliente a respeito do que foi vivenciado durante toda a experiência. Encerro a sessão, que é renovada periodicamente dentro de um processo.

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