São Paulo, sábado, 19 de novembro de 1994
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Choque entre palestinos deixa 13 mortos

DAS AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

Doze civis e um policial palestino morreram no confronto entre militantes muçulmanos e a polícia palestina ontem em Gaza.
Mais de 200 palestinos –incluindo dois policiais– ficaram feridos, 25 dos quais em estado grave, segundo os hospitais.
O confronto começou pouco depois da oração do meio-dia da sexta-feira –dia de descanso muçulmano. Na saída da mesquita "Palestina", a maior de Gaza, cerca de 6.000 integrantes do Hamas e da Jihad –organizações islâmicas radicais– se preparavam para uma marcha até a casa de Isham Hamad, militante da Jihad que matou três soldados israelenses em um ataque suicida na semana passada.
A polícia tinha ordens de impedir a marcha e começou a desmantelar os alto-falantes que iam ser usados. Manifestantes gritavam "traidores", "espiões de Israel".
Segundo testemunhas, os radicais apedrejaram os policiais que atiraram e usaram bombas de gás lacrimogêneo. Segundo comunicado da polícia, "os manifestantes começaram a atirar repentinamente e puseram fogo em dois veículos".
Jornalistas de agências internacionais disseram ter visto caminhões levando cerca de 300 pessoas presas.
Foi o pior confronto entre radicais muçulmanos palestinos e a Organização para a Libertação da Palestina desde a instalação da Autoridade Palestina em Gaza.
A Autoridade passou a administrar a faixa de Gaza e Jericó depois que Iasser Arafat, líder da OLP, assinou acordo de paz com Israel.
O Hamas e a Jihad se opõem a qualquer acordo com Israel.
O governo israelense tem acusado Arafat de não reprimir os radicais com empenho suficiente.
No dia 2 deste mês um membro da Jihad, acusado por Israel de matar dois soldados em maio, foi assassinado. Arafat foi expulso da mesquita onde se realizava o funeral dele, a mesma em que começaram os choques de ontem e que é um reduto do Hamas.
No início desta semana, a Autoridade Palestina começou uma ofensiva contra os radicais. Foram presos 170 membros do Hamas e um enterro simbólico de Isham Hamad foi impedido. A marcha de ontem, já marcada, foi proibida.
Apesar disso, o Hamas e a Jihad disseram ter autorização.
"É igual aos judeus", gritava ontem uma mulher durante o conflito em Gaza. "Arafat, traidor, vá embora de Gaza, não haverá paz com os judeus", gritavam cerca de 200 manifestantes que se juntaram em uma manifestação em frente ao hospital Chifa, em Gaza, para onde foram levados vários feridos.
O Hamas e a Jihad responsabilizaram Arafat pelo confronto. Arafat, depois de reunião com os responsáveis pela segurança de Gaza, culpou os grupos que querem fazer fracassar o processo de paz.
Segundo o porta-voz do Hamas, Ibrahim Goshe, "estes enfrentamentos constituem o início de uma campanha" contra os palestinos que se opõem ao processo de paz.
"Arafat é o responsável por estes enfrentamentos, mas não se deve esquecer que Israel e os Estados Unidos também são responsáveis", disse Goshe.
Em comunicado distribuído em Nicósia, Chipre, a Jihad disse que a Autoridade Palestina planejou uma matança "que faz temer uma deflagração geral da qual os únicos beneficiários seriam os ocupantes sionistas".
Sayyed Abu Musameh, um dos líderes do Hamas, descartou que a situação de confronto esteja caminhando para uma guerra civil. "O Hamas está bastante preocupado com que não haja guerra civil entre palestinos. Isso (o confronto) é raiva", disse.
O clima de tensão se espalhou para outros pontos da faixa de Gaza. Um grupo de jovens atacou e pôs fogo em um posto de fronteira na estrada que leva ao assentamento judaico de Netzarim.
Em Rafah, centenas de militantes muçulmanos depredaram um cinema e um restaurante. Os radicais vêem esse tipo de estabelecimento como antiislâmicos.

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