São Paulo, domingo, 20 de novembro de 1994
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FHC consulta intelectuais de todo o mundo

FERNANDO DE BARROS E SILVA
DA REPORTAGEM LOCAL

Um mês antes de tomar posse, o presidente eleito, Fernando Henrique Cardoso, vai se fechar durante dois dias em Brasília com alguns dos mais eminentes intelectuais do mundo contemporâneo.
Nos dias 2 e 3 de dezembro, FHC participa de um seminário que, assim como as reuniões da equipe que prepara a transição para o novo governo, está sendo mantido em absoluto sigilo pelos seus organizadores.
O evento, idealizado pelo sociólogo Luciano Martins, amigo pessoal de FHC e um de seus principais assessores, tem a coordenação do embaixador Gelson Fonseca.
Entre os convidados estrangeiros estão o sociólogo francês Alain Touraine, o historiador britânico Eric Hobsbawm, o cientista político polonês Adam Przeworski, o economista norte-americano Albert Fishlow, o sociólogo espanhol Manuel Castells e o sociólogo argentino Torquato di Tella, na casa de quem FHC jantou durante sua viagem aos países do Mercosul.
Na lista dos convidados locais estão a antropóloga Ruth Cardoso, mulher de FHC, o filósofo José Arthur Giannotti, a cientista política Aspásia Camargo (presidente do Ipea) e os economistas Paulo Renato Souza (coordenador do programa de governo do tucano) e Edmar Bacha (assessor especial do Ministério da Fazenda).
Com esses nomes –e a ausência significativa de representantes dos partidos que apóiam FHC–, o encontro pretende debater, em espectro amplo, as possibiliades de desenvolvimento do país e sua inserção na nova ordem internacional. Tema a que Luciano Martins tem dedicado os últimos anos de sua atividade intelectual.
Todos os convidados são conhecidos ou amigos de FHC. A maioria deles, como o presidente eleito, flertava com o marxismo na juventude e se converteu à social-democracia com o passar dos anos.
Exceções a essa trajetória são Eric Hobsbawm, a maior referência mundial da historiografia marxista do pós-guerra, e Manuel Castells, especialista em planejamento urbano fortemente influenciado pela tradição marxista.
No pólo oposto está o economista Albert Fishlow, diretor da Faculdade de Relações Internacionais da Universidade da Califórnia, estudioso do Brasil há praticamente três décadas.
Em 91, quando participou de um seminário em São Paulo com o então senador Fernando Henrique, Fishlow dizia que a inflação era o principal problema do país. Sugeria então um "encolhimento" drástico do Estado através de cortes nos gastos públicos e um amplo programa de privatizações.
Fishlow defendia ainda a abertura da economia para investimentos estangeiros a fim de forçar a competitividade da indústria nacional.
Só assim, dizia o brasilianista, seria possível atacar a miséria de forma consistente, sem recorrer aos remendos de inspiração assistencialista. Pelo que vem dizendo FHC, é por essa cartilha que seu governo deverá se pautar.

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