São Paulo, domingo, 20 de novembro de 1994
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Marido de Roseana dará as cartas no MA

XICO SÁ
ENVIADO ESPECIAL A SÃO LUÍS

Jorge Murad, eminência parda do governo José Sarney (1985-1990), volta ao poder no papel de primeiro-cavalheiro, ou "primeiro-damo", como é chamado atualmente no Maranhão.
Ex e atual marido de Roseana Sarney (PFL), primeira governadora eleita do Brasil, Murad comandará, nos bastidores, onde sempre gostou de atuar, o setor econômico do governo da sua mulher.
Os dois se separaram oficialmente em 1988, mas voltaram a morar juntos há dois anos. Roseana promete uma nova cerimônia de casamento para breve.
"Não casamos durante a campanha para não parecer uma coisa eleitoreira", diz Roseana.
Se fosse cumprir a tradição do poder no Estado, o genro do ex-presidente Sarney teria de se contentar apenas com o cargo de secretário de Desenvolvimento Social Comunitário, vaga eternamente reservada no Maranhão às primeiras-damas.
"Mal saiu o resultado da eleição e tudo agora gira em torno do papel que terei no governo da Roseana", disse Murad à Folha. "A pergunta deve ser feita a ela".
Ao lado do marido, saboreando um sorvete de coco, na tarde de quinta-feira (34,5 graus), a primeira governadora responde:
"Ele foi muito importante na campanha e irá colaborar com o governo na área de economia".
Murad diz que pode colocar a experiência adquirida no governo Sarney, quando exerceu o cargo de secretário particular da Presidência, para funcionar na administração do Maranhão.
"Conheço bem as relações entre empresas e governo e acho que o Maranhão tem tudo para atrair muitas empresas para investir na nossa terra", diz. "Sem essa história ridículo de 'primeiro-damo', como estão falando".
Na previsão de Murad, o Maranhão, daqui a dez anos, vai ter uma economia com o mesmo potencial da Bahia. Ele indica a melhor área para investimentos no Estado: os projetos agroindustriais.
CPI
Na gestão Sarney, além de ter muita influência na área econômica do governo, o genro do presidente atuava como ponte entre o sogro-presidente e os empresários.
A influência de Murad no governo Sarney lhe acabou rendendo uma acusação de intermediar verbas, de forma irregular, para o Maranhão, em 1988.
O caso foi parar na CPI da Corrupção, aberta para investigar a administração Sarney (leia texto nesta página).
Jorginho, como é conhecido entre familiares e amigos, afirma que a sua colaboração com a governadora independe da sua presença formal em algum cargo.
Prefere ser uma espécie de consultor de luxo.
Apetite
Para os adversários do clã Sarney, no entanto, não há dúvida: Jorge Murad, vai "mandar" no governo como ninguém.
"Esse rapaz vai dar trabalho", diz, com ironia, o senador Epitácio Cafeteira (PPR-MA), candidato derrotado por Roseana. "Ele tem apetite"', diz com ironia.
Desde que o Maranhão conheceu o resultado das urnas, na última quarta-feira, os políticos aliados ou de oposição se divertem com a história do "primeiro-damo". É assim mesmo que se fala em São Luís.
Entre os adversários, circula, além do prognóstico sobre o poder de Murad, a aposta de que o marido de Roseana possa entrar em choque com os outros dois filhos de Sarney.
O deputado federal José Sarney Filho (PFL-MA) e Fernando Sarney, um dos organizadores da campanha da governadora eleita, também pretendem e devem ocupar um amplo espaço no governo.
Roseana se recusa a falar sobre esse assunto. "Os adversários deveriam saber perder com dignidade e ajudar a melhorar o Maranhão", diz.

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